*Rangel Alves da Costa
Já não sou o que eu era a um segundo atrás.
Já não sou o que eu era a um milésimo de segundo atrás. Já não sou o que a
brisa me soprou no sopro que deu atrás. Já não sou nada da réstia que de mim
ficou quando restou para trás. Já não sou sequer o pensamento que pensei agora
e já não penso mais. Já não sou o olhar daquilo que vi agora e já não vejo
mais. Já não sou o que fui e o que já não sou mais. Já não sou o que há em mim
e que neste momento já não há mais. Já não sou nem a luz nem a escuridão do que
ainda brilha ou escurece se eu olhar para trás. Já não sou nem o tempo nem o
vento do que ainda é o tempo e o vento, mas nem passa nem sopra mais. Já não
sou nada do que ainda é, porém em mim já não é mais. Já não sou o que agora sou
e quando penso que ainda sou eu já não sou mais. Já não sou nem o passo nem a
porta no que se abriu e não se abre mais. Já não sou o eu de agora por que já
passou um segundo do que eu era e aquele já não é mais. Então, o que sou?
Apenas o milésimo de segundo após. O segundo de cada segundo passado. Até que
não passe mais.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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