*Rangel Alves da Costa
De vez em quando ouço a música Lampião Falou,
de autoria de Aparício Nascimento e Venâncio, e magistralmente interpretada por
Luiz Gonzaga, o nosso Rei do Baião. E cada vez que eu a ouço mais a tenho não
só preciosidade musical como retrato renovado de nossa realidade social.
Tratando sobre Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião, a letra mostra
como uma confissão do cangaceiro ante a imagem criada e propagada após sua
morte. Diz que foi apenas um homem que lutou e que morreu por uma causa, mas
também que nunca foi o bandido que tantos insistem fantasiá-lo. O mais
importante: os verdadeiros bandidos estão aí, no dia a dia presente, como se o
mundo estivesse tomado de sanguinários cangaceiros. Eis, então, o que diz a
letra: “Eu não sei por que cheguei, mas sei tudo quanto fiz, maltratei fui
maltratado, não fui bom, não fui feliz, não fiz tudo quanto falam, não sou o
que o povo diz. Qual o bom entre vocês? De vocês, qual o direito? Onde esta o
homem bom? Qual o homem de respeito? De cabo a rabo na vida não tem um homem
perfeito. Aos 28 de julho eu passei pro outro lado, foi no ano 38, dizem que
fui baleado, e falam noutra versão que eu fui envenenado. Sergipe, Fazenda
Angico, meus crimes se terminaram, o criminoso era eu e os santinhos me
mataram, um Lampião se apagou, outros lampiões ficaram. O cangaço continua de
gravata e jaquetão, sem usar chapéu de couro, sem bacamarte na mão, e matando
muito mais, tá cheio de Lampião. E matando muito mais, tá assim de Lampião. E
matando muito mais na cidade e no sertão. E matando muito mais, tá sobrando
Lampião”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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