*Rangel Alves da Costa
Um sonho de Ícaro, talvez. Uma vontade de ser
pássaro, de ser anjo, de ser asas pelo ar. Um sonho, uma vontade, um desejo de
voar. De vez em quando eu me sinto assim, com esse desejo insano de subir pelas
nuvens, de planar nos espaços, de ser sopro de ventania. Talvez os passos
terrenos já não levem a lugar algum. Talvez as estradas já sejam conhecidas
demais para o prazer de seguir. Talvez ir de lugar a outro já não seja com
vontade de chegar a qualquer lugar. E por isso mesmo surgindo sempre o sonho de
voar, a vontade enlouquecida de voar. Sei que já não há mais qualquer liberdade
no voo do pássaro. A mira está por todo lugar. As revoadas já não voam para
retornar, mas fugindo mesmo das atentações humanas. Talvez o Halley só passe
tanto tempo depois de passar com medo de ser atingido pelo míssil da
incoerência humana. Talvez as nuvens desejem passar cada vez mais alto por medo
de serem desfeitas pelas insanidades que estão abaixo. Mas ainda assim eu quero
voar. Seguir, seguir. E lá do alto, bem pertinho do céu, avistar a
insignificância terrena e seu minúsculo nada. E descer para pousar no alto da
montanha, no lugar mais alto da montanha. E aí ficar entre o meu desejo e o que
não quero mais ter. Entre os espaços e as dores terrenas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário