*Rangel Alves da Costa
Preciso de um entardecer poético, singelo,
sublime. Preciso de um entardecer de pedras do cais. E sentado nas pedras,
apenas viver o instante. Uma paisagem apenas, mas muito mais. O sopro da brisa,
o cheiro forte da maresia, o barulho das ondas, o silêncio gritante das águas,
os passos que vão se pagando na areia, coqueirais em seu dolente balanço. Eu
sentando nas pedras do cais e o olhar singrando ao longe, sendo barco, sendo
vela, sendo nau sem destino. Eu mirando o velho farol e minha mente viajando em
navio de partida. E nas ondas uma estrada, um caminho, uma distância. Uma
gaivota se aproxima e pensa que sou marinheiro. Apenas um solitário, haverei de
dizer. E talvez, dali mesmo das pedras do cais, eu aviste adiante, emergindo da
areia molhada, uma velha garrafa tendo por dentro uma carta: “Que essa carta
encontre alguém que seja mais feliz que eu. Que esse alguém tenha amado e sido
feliz ao lado de seu amor. Que esse alguém não vague pelas solidões da praia
com flor à mão e olhos molhados. E que seja bem mais feliz e sorridente do que
eu fui neste deserto mundo de solidão. Por que aqui já não faz sol, já não tem
lua, já não tem amanhecer nem entardecer. E que o amor seja a porta que se
abrirá para toda luz. Assim desejo”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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