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quarta-feira, 7 de julho de 2010

DEUS DO ACASO (Crônica)

DEUS DO ACASO

Rangel Alves da Costa*


Basta perguntar a qualquer pessoa como sente a presença de Deus em sua vida e logo virá a resposta: Deus sempre está comigo, Ele sempre me protege, Ele é tudo para mim, não vivo sem a presença do Senhor no meu coração, Deus é a luz que ilumina e é tudo em minha vida; enfim, todas as respostas serão sempre no sentido de que todos amam a Deus, que sempre está na presença e protegendo cada um.
Até aí tudo bem, pois respostas são considerações ditas da boca pra fora, sem que necessariamente guardem em si fundamentos de verdade. Contudo, se aquela mesma pergunta for feita de maneira diferente, indagando, por exemplo, se já falou e sentiu Deus hoje ou o que faz para que Ele reconheça que o ama tanto, certamente a maioria das pessoas não saberá o que responder no instante, não saberá se expressar rapidamente e de forma verdadeira. E por quê? Simplesmente porque para muitos o Deus que existe neles é o Deus do acaso.
Antes da abordagem do mérito dessa concepção do Deus do acaso, conveniente se faz conceituar o que seja acaso diante da assertiva proposta. Acaso, segundo consta dos dicionários e livros é aquilo que é imprevisto, surgido inesperadamente, algo que não estava previsto para ocorrer e ocorreu, o que surge acidentalmente, uma eventualidade. Filosoficamente, é o acontecimento que não tem o grau de determinação normal que o homem poderia prever.
Veja-se, então, a seguinte as seguintes considerações: Deus é algo imprevisível para o ser humano, que surge acidentalmente, por acaso; o Senhor é um acontecimento de causa ignorada e que de repente surge na palavra de uma pessoa diante de uma determinada situação; Deus é um acontecimento qualquer numa hora inesperada, é um acontecimento incerto ou um talvez na vida do homem.
Tudo isso foi citado apenas para demonstrar que, para muitos, Deus é um acaso, surge apenas ocasionalmente, não é presença viva e constante no coração e na mente, não é certeza garantidora do guiar-se pelos bons caminhos da vida e força maior norteando as boas ações humanas, e surge apenas quando um fato inesperado, que não possa ser suportado e resolvido pelo próprio homem, exige sua presença como salvação.
Neste sentido, a presença de Deus na vida do ser humano é tão nula quanto a sua própria fé, pois o próprio indivíduo se sente como se ele próprio fosse o seu criador, sustentáculo e capaz de tudo por suas próprias forças. Assim, o homem existe porque presença, Deus não existe porque só casualmente intervém. Ademais, se o homem pode tudo, então porque necessitar de Deus na sua vida? É o que erroneamente se pensa, é o que contraditoriamente se diz, é como fragilmente se age.
Os que pensam e têm a Deus como mero acaso nas suas vidas são em número maior do que o bom senso possa presumir. Nestes, geralmente se vê a lembrança do Senhor apenas em situações estritamente determinadas: aconteceu algo de errado, diz logo ai meu Deus; está precisando de alguma coisa urgente e diz valha-me Deus, o que é que eu faço agora?; quer fazer um juramento, falso ou não, e diz juro por Deus; quer implorar que façam alguma coisa e diz pelo amor de Deus; quer se arriscar em alguma empreitada e diz e que Deus me proteja.
Tenho a convicção de que aqueles que reverenciam verdadeiramente o seu Deus têm-no como causa maior da vida e da existência, reconhecem a sua presença graciosa em tudo, e por isso mesmo sentem sua essência no espírito a todo instante, não precisam estar por aí pronunciando o seu nome em vão, pois é no silêncio do coração que Ele grita e diz ser necessário porque o ser humano, por mais forte que se ache, não passa de um acaso.
O homem sim, é acaso; Deus é permanência e tudo!




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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