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quarta-feira, 21 de julho de 2010

REINO ENCANTADO DO AMOR (Crônica)

REINO ENCANTADO DO AMOR

Rangel Alves da Costa*


Dizem que num Reino Encantado um rei muito safado mandou o seu filho menino, jovem bonito e sapeca, ser safado também e desfrutar pelo reino inteiro todos os segredos e delícias do amor.
Porém o rei safado era muito zangado e ficava acabrunhado quando sua filha menina dizia que um dia iria namorar e amar.
O rei baixou um decreto ordenando que o seu filho tivesse quando quisesse todas as jovens do reino, todas as mulheres casadas e todas as viúvas ainda boas de serem usadas. E todo mundo aceitou porque era ordem do rei e o mulherio de bom grado confirmou.
O rei baixou outro decreto proibindo que os homens olhassem para sua filha e pagava com a pena de morte todo aquele que ao menos suspirasse perto dela.
O rei mandou contratar no oriente e no ocidente, nas terras frias e mais quentes, todos aqueles especialistas na arte do bem amar, na arte do galanteio e na arte do se fartar, para nos leitos sedentos o seu filho desbravar.
O rei mandou escolher pelo mundo religiosas envelhecidas, senhoras jamais queridas, para cuidar do recato e educação de sua filha, que deveria ser prendada eternamente na arte do silêncio e da clausura.
O filho safado do rei mal podia descansar, pulando de uma cama a outra fazendo valer seu vigor e a força de sua idade, deixando o próprio pai num misto de alegria e saudade. E dizem que era tão afoito, que escolheu três irmãs para se unir num só coito.
A pobre filha do rei, sonhando em namorar, não podia nem dizer aquilo que desejava, pois ficava de castigo ou ali mesmo apanhava. Saía da cama molhada e diziam que era febre, enchiam ela de chá quando queria um homem já.
Um dia o rei ficou chateado com o que o seu lindo reclamou, dizendo que o mulherio do reino estava mesmo um horror, que não suportava mais deitar com a mesma duas vezes, e que o pai precisava castigar aqueles que estavam escondendo suas filhas mais novas, pois filha não era pra pai e sim para suas alcovas.
Um dia o rei ficou injuriado com o que vieram lhe dizer, que sua filha era mocinha e precisava divertir, e mesmo que não namorasse mas precisava sair. Ver o mundo, tomar ares, conhecer cada empregado, porém na navalha passar o que ficasse enamorado.
O rei mandou construir um harém para o seu filho, quase do tamanho do reino, com mais de mil quartos enfeitados, com banheiras e solares e camas com almofadados, com todos os tipos de óleos e cremes, com orquestras de cegos e massagistas eunucos.
Coitada da filha do rei, mais doente a cada dia, e quanto mais tempo passava mais ela perdia alegria, com um calor a lhe subir, a vontade a consumir, tudo querendo lhe possuir, mas nenhum homem por ali.
O querido filho exigiu e o rei mandou contratar mil mulheres no estrangeiro. Não queria contrariar, mas custava muito dinheiro e do jeito que a coisa ia tinha que hipotecar o reino inteiro. Mesmo assim era feliz porque seu lindinho provava que naquele reino era a macheza que imperava.
Um dia a filha do rei morreu e o pai não ficou nem sentido, pois estava preocupado em atender o seu querido, pois agora cismou que queria mais mil novatas no harém. E o rei já empobrecido, um tanto desconfiado, resolveu ir até lá e quase caiu sentado. O filho tinha enjoado das mulheres e já estava de noivado marcado, mas não com nenhuma virgem, deixando o rei espantado. Não se sabe o porquê, mas caiu esparramado.





Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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