Rangel Alves da Costa*
A lua é sempre a mesma, desde quando avistada
ao anoitecer até quando se mistura com o alvorecer e se esconde detrás do sol.
O que sempre muda é a sua feição, segundo a
mudança de fase. E assim acontece quando muda de brilho e de poesia. Por isso a
lua nova, a lua crescente, a lua cheia e a lua minguante.
Assim como a noite, a lua está sempre
presente em todo lugar. São as condições climáticas que permitem avistá-la com
maior ou menor perfeição. Um céu nublado desencanta o olhar enamorado pelo
poema da noite.
Também a lua daqui é a mesma lua de lá, do
Japão ou qualquer lugar. A noite muda de horário, mas não muda de cor, nem o
firmamento se apresenta de forma diferenciada. Por isso que a lua encanta e
sensibiliza onde quer que apareça imensa.
A lua possui o mesmo brilho segundo a fase em
que esteja. Mas como a limpidez da noite depende da caminhada das nuvens, das
condições atmosféricas e propensões chuvosas, então a lua fica na dependência
de tais ocorrências.
Uma noite nublada esconde a lua. Nuvens que
passam apressadas fazem avistar apressadamente o luar. Mas tantas vezes a chuva
não impede que suas gotas se misturem à luz do luar. E que negrume se a lua é
consumida pela escuridão do espaço.
Mas por que de repente se diz que a lua está
triste? Por que ao mirar o imenso lume no meio da noite a pessoa chora, se
enche de aflições e sente o mundo desabar sobre si?
Ora, mas a lua nunca esteve nem jamais estará
triste. Não há lua triste, lua chorosa, lua lacrimosa, lua sorridente, lua
canção ou lua grito de dor. A lua está apenas mais ou menos cheia, mais
brilhosa ou apenas lua, mais anelada ou fininha querendo sumir. A lua é assim
mesmo.
A lua é assim, porém as pessoas não. A lua lá
em cima, entre nuvens ou não, é concebida segundo o sentimento da pessoa que a
avista. O retrato lunar é premeditadamente fotografado pelo estado sentimental
do sujeito.
A lua certamente estará sorridente se a
pessoa lança o olhar já cheio de luz e contentamento. A lua não terá
significação alguma, não passando de apenas uma luz lá em cima, se a
indiferença for mais forte que a razão.
A lua será verso, poema, poesia, canção,
retrato e carta de amor, se o olhar que a avista já estiver iluminado pelas
forças amorosas do coração. E não raro que o apaixonado encontre uma lua cheia,
brilhosa, intensa, onde existe apenas uma ponta de luz.
Dificilmente o poeta, o noctívago e o
enamorado, não avistem o luar num contexto muito além do apresentado lá em
cima. Não é mais apenas a lua, o anel luzente em si, mas uma auréola misteriosa
e apaixonante que transforma os sentidos em divagações.
Contudo, segundo as propensões da alma, o
estado de espírito e os desejos do sentimento, a lua outra aparência não terá
senão de um retrato triste. Mesmo a lua cheia, imensamente grandiosa, descendo
radiante sobre a vida, será avistada como tristeza, melancolia, angústia, dor e
sofrimento.
Não há quem consiga avistar a beleza da lua
quando seu íntimo fervilha de angústia. Não há quem enxergue a perfeição
luminosa quando a mente padece com saudades e desilusões. Não há quem sorria
perante o luar quando o instante tanto relembra momentos bons que não existem
mais.
Assim, a lua se torna triste pelo olhar. Não
há luar cuja beleza supra a presença de alguém. Não há luar que traga o abraço,
o carinho, o conforto, o beijo. E a luz vai se derramando em pranto, a noite se
tornando dor. E tudo tão imensamente triste.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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