Rangel Alves da Costa*
Povo não se define, se observa e diz se é
gente ou não. E assim porque povo existe que ainda vive em estado animalesco,
de verdadeira barbárie. E um povo assim não pode ser reconhecido como gente.
A condição de gente pressupõe racionalidade
humana, normalidade nas ações, características culturais próprias e um estado
civilizatório que lhe permita reconhecimento. Não pode ser considerada gente
quem desvirtua suas características humanas.
Há um tempo próprio de cada povo. E uma mente
acompanhando e em consonância com o seu tempo. Diz-se primitivo porque dos
tempos primeiros, mas ainda existe gente que vive no estágio da pedra lascada.
Diferente do tempo, que avança continuamente
e traz novos ares, não há nenhuma garantia que o povo queira avançar e se
desenvolver. Na verdade, há gente que força regressão para ser reconhecido como
bárbaro ou até irracional.
Povos inteiros já estiveram além do seu
tempo, já mostraram mentalidades e imponências ainda em estágios de trevas.
Outros foram dizimados por falta de pensamento e ação. E ainda outros sequer
sabem por que existem enquanto sociedade.
Povos deixaram feitos que o tempo jamais
conseguirá apagar. Em muitas situações, há de se valorizar muito mais os povos
antigos que as civilizações posteriores. A verdade é que as gerações mais novas
se tornaram preguiçosas e negligentes com os feitos e a história.
No caso brasileiro, certamente que a grandeza
dos povos antigos continua como sorte do povo presente. Com o passar dos anos,
nada mais foi acontecendo que realmente mereça uma página de reconhecimento nos
livros de história.
Na verdade, o povo brasileiro caracteriza-se
como um caso de regressão explícita. Enquanto os tempos mudam, as mentalidades
evoluem, as consciências irrompem laços, a mentalidade brasileira regride.
Mas a regressão não é ao passado digno de
reconhecimento, mas a um estágio que não pode ser explicado em nenhum povo.
Ora, a mentalidade brasileira conseguiu aprender e praticar aquilo jamais pensado
por qualquer povo: negar a si mesmo.
Nega a si mesmo quando se mantem submisso,
quando escraviza suas forças, quando subjuga seu poder de escolha. Nega a si
mesmo quando se mantém omisso diante da necessidade de ação, quando reconhece e
valoriza seu próprio algoz.
O povo brasileiro é o único no mundo que se
compraz em apanhar, em ser achincalhado, pisoteado. Diz-se que pisoteado até o
menor e mais abjeto verme se revira e tenta reagir, mas no caso brasileiro não.
O povo sangra aplaudindo seu carrasco.
Basta ver quais as características que o povo
brasileiro se arvora de possuir: covardia, passividade, negligência,
esquecimento, inércia, acriticidade, conformismo, irrealidade. Com efeito, o
povo brasileiro vive no irreal, no mundo da lua, numa quimera de aceitação, de
acreditar em tudo que não presta.
Talvez nenhum outro povo consiga ter a proeza
da dupla face, da negação de si mesmo, do paradoxo em tudo. É um povo que não
acredita nem no que ele mesmo fala, um povo que agora diz não quando quer dizer
sim, e desmente a si mesmo em toda situação.
Talvez não haja outro povo no mundo que minta
tanto, que invente tanto, que brinque tanto consigo mesmo. Vive na palhaçada,
no tanto faz, num eterno circo. E brinca tanto consigo mesmo que nem sente
quando está sente usado como joguete.
Não há que dizer diferente de um povo que
fala mal de político e vota no mesmo político que falou mal. Não há como pensar
diferente de um povo que conhece a existência de corrupção e quem são os
corruptos, mas ainda assim mantém a máfia no poder.
Um povo que faz da preguiça um meio de vida
não é um povo honrado. E um governo que paga para o povo ser ocioso não é um
governo honesto. E entre desonrados e desonestos a nação vai se afundando. E
sempre com a ajuda dos omissos, covardes e conformistas.
Há explicação para um povo assim?
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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