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sábado, 17 de janeiro de 2015

POVO: QUEM É ESSA GENTE?


Rangel Alves da Costa*


Povo não se define, se observa e diz se é gente ou não. E assim porque povo existe que ainda vive em estado animalesco, de verdadeira barbárie. E um povo assim não pode ser reconhecido como gente.
A condição de gente pressupõe racionalidade humana, normalidade nas ações, características culturais próprias e um estado civilizatório que lhe permita reconhecimento. Não pode ser considerada gente quem desvirtua suas características humanas.
Há um tempo próprio de cada povo. E uma mente acompanhando e em consonância com o seu tempo. Diz-se primitivo porque dos tempos primeiros, mas ainda existe gente que vive no estágio da pedra lascada.
Diferente do tempo, que avança continuamente e traz novos ares, não há nenhuma garantia que o povo queira avançar e se desenvolver. Na verdade, há gente que força regressão para ser reconhecido como bárbaro ou até irracional.
Povos inteiros já estiveram além do seu tempo, já mostraram mentalidades e imponências ainda em estágios de trevas. Outros foram dizimados por falta de pensamento e ação. E ainda outros sequer sabem por que existem enquanto sociedade.
Povos deixaram feitos que o tempo jamais conseguirá apagar. Em muitas situações, há de se valorizar muito mais os povos antigos que as civilizações posteriores. A verdade é que as gerações mais novas se tornaram preguiçosas e negligentes com os feitos e a história.
No caso brasileiro, certamente que a grandeza dos povos antigos continua como sorte do povo presente. Com o passar dos anos, nada mais foi acontecendo que realmente mereça uma página de reconhecimento nos livros de história.
Na verdade, o povo brasileiro caracteriza-se como um caso de regressão explícita. Enquanto os tempos mudam, as mentalidades evoluem, as consciências irrompem laços, a mentalidade brasileira regride.
Mas a regressão não é ao passado digno de reconhecimento, mas a um estágio que não pode ser explicado em nenhum povo. Ora, a mentalidade brasileira conseguiu aprender e praticar aquilo jamais pensado por qualquer povo: negar a si mesmo.
Nega a si mesmo quando se mantem submisso, quando escraviza suas forças, quando subjuga seu poder de escolha. Nega a si mesmo quando se mantém omisso diante da necessidade de ação, quando reconhece e valoriza seu próprio algoz.
O povo brasileiro é o único no mundo que se compraz em apanhar, em ser achincalhado, pisoteado. Diz-se que pisoteado até o menor e mais abjeto verme se revira e tenta reagir, mas no caso brasileiro não. O povo sangra aplaudindo seu carrasco.
Basta ver quais as características que o povo brasileiro se arvora de possuir: covardia, passividade, negligência, esquecimento, inércia, acriticidade, conformismo, irrealidade. Com efeito, o povo brasileiro vive no irreal, no mundo da lua, numa quimera de aceitação, de acreditar em tudo que não presta.
Talvez nenhum outro povo consiga ter a proeza da dupla face, da negação de si mesmo, do paradoxo em tudo. É um povo que não acredita nem no que ele mesmo fala, um povo que agora diz não quando quer dizer sim, e desmente a si mesmo em toda situação.
Talvez não haja outro povo no mundo que minta tanto, que invente tanto, que brinque tanto consigo mesmo. Vive na palhaçada, no tanto faz, num eterno circo. E brinca tanto consigo mesmo que nem sente quando está sente usado como joguete.
Não há que dizer diferente de um povo que fala mal de político e vota no mesmo político que falou mal. Não há como pensar diferente de um povo que conhece a existência de corrupção e quem são os corruptos, mas ainda assim mantém a máfia no poder.
Um povo que faz da preguiça um meio de vida não é um povo honrado. E um governo que paga para o povo ser ocioso não é um governo honesto. E entre desonrados e desonestos a nação vai se afundando. E sempre com a ajuda dos omissos, covardes e conformistas.
Há explicação para um povo assim?


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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