Rangel Alves da
Costa*
Nasci a 16
de março de 1963 e hoje, portanto, estou completando 53 anos de vida. Mas quem
dera mais, muito mais... Quem dera mais viver, e viver mais dez, vinte, trinta,
quarenta, cinquenta anos. Ou até quando a mão de Deus fechar de vez meu olhar.
São 53
anos de estrada, desde aquela primeira luz no berço interiorano, nas distâncias
daquele Poço Redondo mais fraterno e singelo, ao passo de agora, dividido entre
o asfalto da capital e o cheiro bom de mato e terra do meu sertão. Aquele
menino de Peta e Alcino que cresceu e caminhou sem que seu coração saísse do
mesmo lar. E também entristecido pelas molduras de adeuses nas paredes da
memória.
Mas sou
feliz, sou alegre, sou contente. Sou sertanejo orgulhoso e apaixonado pela
minha raiz. Por onde ando levo no peito aquela paisagem de sol e de lua, de
areia pela estrada e casebre adormecido. Aonde vou levo comigo o retrato do
mandacaru, do xiquexique, da catingueira, do velame e da macambira. Onde estou
me sinto na presença das águas do Velho Chico, nos arredores do Poço de Cima,
caminhando pelo Alto de Tindinha e pelas ruas do Lídia, do São José e muito
mais.
Por que
amo meu Poço Redondo. E talvez neste amor a grande alegria da vida, o
encorajamento para seguir em frente e sempre reencontrar minha porteira de
regresso e paz. Só quem sente um amor assim pode compreender o significado de
uma craibeira florida, de um mandacaru florescendo, de um avoante ao céu do
entardecer sertanejo. Só quem sente um amor assim se sente ainda mais amante
toda vez que cai pingo d’água, que os campos verdejam e a esperança faz remoçar
a feição tão sofrida do humilde caboclo.
Nesta
minha caminhada, cuja memória não apaga aquele ano de 74 quando tive de fincar
na terra minha infância e seguir para a capital, restou a lição bem escrita. Eis
que aprendi a jamais esquecer. E por não me esquecer da raiz e chão, também
jamais deixei de ser sertanejo nos bancos universitários, nos grandes salões ou
nos fóruns da vida. E esse orgulho me orgulha. Nunca fui outro Rangel senão
aquele filho de Poço Redondo.
Parodiando
Romaria, ainda me vejo na estrada como menino de sonho e do pó, no destino de
um só, feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo, e de laço e de nó,
de gibeira o jiló, cumprindo minha vida ao sol. Por que sou caipira de um
sertão distante, sou de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, nunca
esquecendo os seus filhos e sempre iluminando os trilhos a ser vencidos no trem
de toda a vida...
A dádiva
da fé e um amor de filho. Por isso sei o quanto o manto chama quando estou
distante. Por isso sei o quanto a porta se abre quando me aproximo. Pois muito
sei o quanto necessito retribuir o que me foi dado. E um filho que a casa
retorna não pode deixar senão a porta aberta para que seus irmãos cheguem e
compartilhem a vida. E quanto preciso ainda compartilhar com os meus irmãos de
Poço Redondo e todo o sertão.
Por isso
que comemoro hoje a nova idade que chega, mas imploro a Deus muito mais vida,
muito mais viver, muito mais fazer, muito mais compartilhar. Preciso fazer o
que não fiz ainda, preciso amar muito mais a quem apenas amei, preciso doar mais
a quem precisa mais, preciso confessar a quem eu apenas disse, preciso olhar
nos olhos e dizer palavras, preciso abraçar e sentir o coração.
Hoje
completo 53 anos, mas quero chegar aos 63 com planos realizados e promessas de
fazer mais. Quero chegar aos 73 colhendo dos frutos semeados e ainda com grãos
para mais semear. Quero chegar aos 83 agradecendo por tudo e pedindo ao Senhor
que a vida não se esvaia antes que eu possa colher a flor que se esconde no
jardim da mais distante velhice.
E em
qualquer idade daqui em diante, chegar a uma igreja onde Padre Mário estiver e
em silêncio dizer: “Como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu
olhar, meu olhar...”.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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