SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 28 de março de 2016

Palavra Solta – viver na roça


Rangel Alves da Costa*


Como diz a letra da música caipira, de que me adianta viver na cidade se a felicidade não me acompanhar, adeus paulistinha do meu coração, lá pro meu sertão eu quero voltar. E um retorno que se justifica plenamente, pois não há vida nem viver melhores que a da roça. Viver na roça é estar na plenitude da natureza, é conviver com o singelo e afetuoso, é sentir a canção da brisa cheirando a folha, é partilhar das belezas do sol e da lua, do amanhecer e do anoitecer. De lado a outro apenas a estrada de chão batido, a vereda espinhenta, o pé de pau, a moradia do xiquexique, do mandacaru, do velame e da catingueira. Mas também da baraúna, do angico e da umburana. O bicho que pasta adiante, o cavalo que relincha, a galinha ciscando, o cachorro perdigueiro correndo atrás de preá afoito. Uma rede na varanda, debaixo do alpendre e o cheiro bom do cuscuz ralado, do café torrado, do toucinho por cima do fogão de lenha. O queijo fresquinho, o doce de leite, a coalhada e a umbuzada, a panelada de galinha de capoeira e a cachaça com casca de pau para abrir o apetite. Um compadre que passa, um berrante ao longe, uma vida chamando a viver. E aquele tempo manso, preguiçoso, de horas lentas e murmurantes. O entardecer que vai chegando para a boca da noite se abrir e aquela cor dourando a sertão se espalhar na feição do luar mais lindo do mundo. Um sertão que é dádiva divina, um viver na roça que é a verdadeira paz tão almejada por todos.


Poeta e cronista
Blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: