Rangel Alves da Costa*
Não, não é a janela da alma, janela do
sentimento, janela entre o real e a ilusão, mas a janela mesmo, aquela aberta
em parede e que se abre e se fecha por todo lugar. Aquela ao lado da porta ou
que sozinha mostra o mundo lá fora ou a tristeza lá dentro. Como diz a música,
é da janela lateral do quarto de dormir que muito se avista lá fora, assim como
os caminhantes pela estrada, o redemoinho antes da tempestade, a procissão e o
velório. Do umbral, sempre ao entardecer, a mocinha triste vai construindo o
seu mundo de sonho e de dor, e sorri e chora, e deseja e desiste. Tantas vezes
aberta, tantas vezes fechada, ou entreaberta para ser empurrada. Mesmo fechada,
a ventania insiste em forçar a madeira para abrir passagem. E se aberta logo se
sente dono do quarto, da casa, das vidas, e vai esvoaçando tudo sem piedade.
Mas nada igual à janela de casa desde muito abandonada, distante de tudo, ao
desejo do tempo. Não há flor à janela, não há menina tristonha, nada. Apenas um
vulto que é avistado assim que a noite chega e um sino brada a solidão da vida
e os mistérios do mundo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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