Rangel Alves da
Costa*
Respeitável
público, o circo chora! E sofre pela perda de um de seus maiores expoentes: Franz
Czeiler, o Tihany, falecido nesta quarta-feira, dia 02, aos 99 anos, o húngaro
que veio para o Brasil e fez o país delirar de alegria. E agora, entristecidas,
fecham-se as cortinas de mais um ato da vida.
Gerações e
mais gerações cresceram ouvindo falar nas maravilhas do Circo Tihany, um dos
grandes representantes do maior espetáculo da terra. E o seu criador, ilusionista,
mágico, adepto do palco circense, um sonhador que semeou alegria já desde mais
de sessenta anos. E desde então até se aposentar, abriu suas lonas pelo mundo
inteiro. A diversão continua, eis que o Circo Tihany ainda apresenta seus
espetáculos, mas já há algum tempo sem a presença de seu idealizador.
Está no
circo a verdadeira arte de encantar. Nos palhaços, nas bailarinas, nos
encantadores, nos mágicos, nos trapezistas, nos domadores, nos acrobatas, nos
equilibristas, nos ilusionistas, nos saltimbancos e mambembes de todos os
caminhos, a verdadeira arte popular.
Popular
porque indo até o povo está. E não há povo que não goste de circo, que não
aprecie seus grandiosos espetáculos, ainda que seja apenas uma tenda armada na
beira de estrada, em remoto lugar. Porque tem palhaço, tem pipoca, tem alegria,
tem diversão para a família inteira.
No passado
e ainda na atualidade, nomes de circos grandiosos: Circo Imperial da China, Cirque
d’Hiver, Circo Oz, Circus Krone, Cirque du Soleil, Circo Royal, Circo Di Roma, Acrobáticos
Fratelli, Patifes e Paspalhões. E quem não se lembra do Circo Vostok, do
Orlando Orfei, do Circo de Moscou, do Circo Garcia e do Circo Tihany?
Quem já
não ouviu falar em Carequinha, Arrelia, Torresmo, Piolin, Picolino e
Pimentinha? Simplesmente os maiores palhaços do Brasil, aqueles que ao entrar
no picadeiro possuíam o dom de transformar toda tristeza em alegria, toda
seriedade em diversão. Os gestos, os narizes vermelhos, os cabelos
desengonçados, as roupas coloridas folgadas, os rostos pintados, a arte sem
igual de encantar multidões.
E Tihany,
o mesmo criador que emprestou seu nome ao circo, durante gerações levantou suas
tendas, suas lonas, seus picadeiros e suas luzes, criando um mundo onde reinava
somente o mágico, o espetacular, o extraordinário. Um circo grandioso, imenso,
com diversidade de espetáculo, mas sempre no intuito único de fazer desabrochar
a alegria nos corações.
Verdade
que a realidade atual do circo é muito diferente daquela dos tempos idos. Nos
dias atuais, se tornou raridade encontrar um circo com suas lonas erguidas e
suas tendas espalhados ao redor. Nem nas grandes cidades ou capitais os circos
são facilmente encontrados. Apenas um ou outro que chega para ligeiras
temporadas. Somente os parques de diversões ainda são avistados com frequência
em épocas festivas e de final de ano.
Os que
ainda sobrevivem com o nome de circo tiveram que se transformar em verdadeiras
parafernálias tecnológicas, o Cirque de Soleil sendo o exemplo maior. As
tecnologias fizeram desaparecer os espetáculos frente ao público, pedindo sua
participação. Sumiu a espontaneidade dos palhaços, também desapareceram suas
atrações inconfundíveis: a mulher barbada, o atirador de facas, a dançarina de
palco (rumbeira), o palhaço traquina.
Não havia
cidade interiorana que não se encantasse com a chegada de um circo. Bastava o
anúncio e tudo era motivo de rebuliço festivo. Contudo, não se vê mais aquele
cortejo tão esperado, com carros carregando em segredo as grandes atrações. O
que se tem, e quando ainda é possível encontrar, são trupes empobrecidas que
vagueiam pelos interiores muito mais em busca de meios de sobrevivência, de
qualquer ingresso adquirido que ajude a subsistir.
Os grandes
circos continuam com seus espetáculos, mas suas famas ainda são aquelas
alcançadas no passado. E de um passado tão grandioso, belo e comovente, que também
não se esquece de quem tanto lutou para que o público ouvisse o “hoje tem
espetáculo!”, e mais tarde fosse cumprimentado com o “respeitável público!”. E
Tihany foi um de seus expoentes maiores.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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