Rangel Alves da Costa*
A fome, ou a verdadeira fome, não escolhe
prato. As pessoas gostam disso ou daquilo, possuem preferências de comida e até
evitam diversos pratos. Mas não na fome, pois não há escolha, ou come ou definha.
Tem gente que evitar carnes gordas, outras carnes vermelhas, outras enlatados,
e assim por diante. Tem gente que não come ovo por achar cafona ou comida de
pobre, que não come tripa ou bucho pelo mesmo motivo. Gente que não gosta de
macarrão ou de fritada, gente que não gosta de carne assada ou carne de
carneiro. Há gente que não come além de verduras e frutas e gente que não come
quase nada. E também gente que come de tudo, e muito, e quanto mais a mais.
Agora se imagine um dia sem comer, dois dias, três, e por falta de alimento.
Então começa a sonhar com comida, com qualquer comida. Numa situação assim,
salsicha lhe cairia como o melhor prato do mundo, comida de rua seria muito
melhor que a de restaurante grã-fino, farofa de ovo seria a coisa mais
deliciosa do mundo. E não era para ser diferente. Em situações extremas,
come-se mesmo o impensável, desde qualquer bicho ao bicho homem. A carne humana
já salvou muita gente da morte, não há que se negar. Então, perante a fome,
tudo é saboroso, delicioso, apetitoso: larvas, insetos, coisas desconhecidas. E
nunca mais haverá de dizer que desse prato não comerei.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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