Rangel Alves da Costa*
Neste
final de semana tive oportunidade de conversar com muitas conterrâneas
sertanejas. Amigas de mais idade ou mesmo de mesma estação, mas que sempre se
parecem mais envelhecidas pelas durezas de todo dia. Conversando, gosto sempre
de proseado solto, alegre, de modo que se sintam à vontade e percam qualquer
timidez com relação à minha pessoa. Então, logo perguntei se naquele sábado
estava pensando em ir dançar um forrozinho depois de a noite cair, como era
costumeiro em todo final de semana. A resposta imediata foi de que durante a
quaresma ela evitava dança e até ouvir música, e que só retornaria à festança
depois do domingo de páscoa. E fui mais adiante, perguntando se ainda
continuava aquele costume de quase nada fazer neste período. E dela ouvi: Não
mais como antigamente, quando muita gente, desde a quarta-feira de cinzas,
vestia de preto da cabeça aos pés, não varria a casa nem tomava banho. Vivia
como se fosse num luto pesaroso durante os três dias santos. Os tempos são
outros, muito mudou, mas conheço muita gente que não vai dançar forró pela
necessidade de guarda que sente. Ainda tem gente que não chamegar de jeito
nenhum durante a quaresma inteira. Dorme até de roupão que é pra não dar
tentação. Fazer aquilo de jeito nenhum, pois, segundo diz, nos dias de
sofrimento de Jesus não se pode sentir qualquer tipo de prazer, muito menos o
da carne. Basta fazer safadeza e ir sem demora pras profundezas dos quintos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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