Rangel Alves da Costa*
O cágado é o bicho mais silencioso que existe.
Também mais solitário, mais triste e recluso. Sua aparência entristecida logo
provoca consternação. Como pode um animal viver assim, de modo tão estranho,
distante de tudo, e quando é encontrado logo se sente a tristeza mais profunda?
Pois o cágado é assim. Já desde quase dez anos que crio um e sei como é o seu
comportamento. Contudo, o meu cágado, por ser de criação, não possui serventia
para o pleno entendimento de sua tristeza, sua solidão e seu silêncio. Somente
no cágado do mato é possível fazer tal observação. O nativo possui um jeito
extremamente peculiar de ser e existir. Passa a maior parte do tempo dentro da
loca, e isso cinco, seis ou mais meses seguidos, dela só saindo quando vai
chover. E não é qualquer chuva que tira o bicho da loca não, pois tem de ser
trovoada, chuva com relâmpago e trovão. Quando sai, todo lento e desconsertado,
talvez estranhando o mundo lá fora, vai caminhando ao desvão, cabisbaixo,
entristecido, sem o mínimo desejo de encontrar um só pé de pessoa. Assim que
encontra, logo esconde a cabeça e assim permanece. E depois segue em frente,
vai caminhando pelas veredas até sumir novamente.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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