SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 4 de março de 2016

Palavra Solta - o silêncio solitário do cágado


Rangel Alves da Costa*


O cágado é o bicho mais silencioso que existe. Também mais solitário, mais triste e recluso. Sua aparência entristecida logo provoca consternação. Como pode um animal viver assim, de modo tão estranho, distante de tudo, e quando é encontrado logo se sente a tristeza mais profunda? Pois o cágado é assim. Já desde quase dez anos que crio um e sei como é o seu comportamento. Contudo, o meu cágado, por ser de criação, não possui serventia para o pleno entendimento de sua tristeza, sua solidão e seu silêncio. Somente no cágado do mato é possível fazer tal observação. O nativo possui um jeito extremamente peculiar de ser e existir. Passa a maior parte do tempo dentro da loca, e isso cinco, seis ou mais meses seguidos, dela só saindo quando vai chover. E não é qualquer chuva que tira o bicho da loca não, pois tem de ser trovoada, chuva com relâmpago e trovão. Quando sai, todo lento e desconsertado, talvez estranhando o mundo lá fora, vai caminhando ao desvão, cabisbaixo, entristecido, sem o mínimo desejo de encontrar um só pé de pessoa. Assim que encontra, logo esconde a cabeça e assim permanece. E depois segue em frente, vai caminhando pelas veredas até sumir novamente.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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