*Rangel Alves da Costa
Era uma vez... Era uma vez num reino
distante, mas muito distante mesmo, onde uma rainha, ao invés de exercer seus
ofícios reais ao lado do velho soberano, preferia fazer coisas mais
apimentadas. Era a rainha da luxúria, da devassidão, da libertinagem. Mais
tarde, como bem escreveu um insuspeito historiador, seu nome ficaria conhecido
como a rainha de pernas abertas.
Rainha, pelo amor que sente ao reino, feche
essas pernas, rainha! Alertava o conselheiro da corte. Mas não tinha jeito,
pois quando o velho rei cochilava, lá ia a rainha abrir as pernas. Rainha, por tudo
mais precioso na vida, feche essas pernas, rainha! Implorava a dama da corte.
Porém não tinha jeito. Bastava uma breve distração do rei ancião e a rainha
corria soltar os panos e abrir as pernas.
O curandeiro da corte já havia quase
endoidado em busca de um remédio para a safadeza da rainha. Já havia testado
mais de mil ervas, mais de uma centena de poções diferentes, quase uma carrada
de mezinhas e outras preparações. O que se via, contudo, era o fogo da rainha
aumentar. O mago da corte já havia desistido. Todos os seus intentos foram de
água abaixo ante os prenúncios mostrados nos espelhos. Ou estes se partiam
envergonhados ou mostravam uma depravada no cio mais irrequieto.
Rainha, pelo brasão e o escudo da corte, pelo
amor da honra real, feche essas pernas rainha. Não fica bem uma senhora
impoluta e de sangue azul, de coroa e potestade, viver por aí levantando os
panos reais para ficar de pernas abertas diante de qualquer um. Feche as
pernas, sua mais que safada alteza! Disse o cozinheiro da corte, num instante
em que a rainha devassa exigia uma gemada de mil ovos para recompor suas
forças. Até o bobo da corte, de soslaio, soltou a sua: Santa Messalina perto
dessa aí. Puta perde, pois isso é mesmo uma cadela dando pra gato e rato.
Todo mundo sabia dessa história, porém
ninguém a espalhava livremente por medo de a notícia chegar aos ouvidos do
velho rei. Homem justo, bondoso, reinando com respeito aos servos e serviçais,
não merecia conhecer o que a sua jovem rainha andava fazendo e fazendo demais. A
mulher era tão sedenta de sexo que certa feita agendou de antemão a visita de
todo jovem do reino que tivesse entre dezoito e vinte anos.
Guerreiros, soldados, campesinos, pobres
aldeões, mancebos e envelhecidos, ninguém escapava do seu flerte. Ordenava que
um ou outro fosse trazido às escondidas, pelos fundos do castelo, ou
simplesmente se vestia de aldeã para ser usada e abusada por cima do capim, nas
estrebarias ou em qualquer lugar. Subia no alto da torre e lá mandava tocar os
clarins enquanto abaixava a roupa para ficar de pernas abertas. Toda vez que os
clarins tocavam, então o povo já sabia da safadeza da rainha.
Rainha, pela dignidade do seu velho esposo,
feche essas pernas. Tal fome de sexo já passou dos limites. Que safadeza é essa
de não respeitar sequer os aposentos de um castelo cheio de honra e glória. E
do jeito que vai, não vai demorar muito e o seu senhor e rei tomará ciência dos
chifres que vem levando a cada dia e da sua quenganhice sem fim. É o conselho
que dou. Feche as pernas, rainha. Foi o que afirmou o sacerdote estupefato com
os boatos espalhados por todo lugar.
Um dia, a safadeza da rainha chegou aos
ouvidos do velho rei. Imediatamente este se dirigiu aos aposentos de sua
senhora real e lá, abrindo as portas de surpresa, encontrou a soberana puta de
pernas abertas. Diante da cena, teve um piripaqui e morreu. Depois disso o reino
ficou sem rei nem rainha. Ela abdicou do trono e resolveu abrir as portas do
castelo para outros fins. E ali surgiu um famoso cabaré.
Contudo, como toda a burguesia da antiga
corte não saía do cabaré, era nos seus aposentos que todos os destinos eram
resolvidos, entre bebidas, grunhidos e pernas abertas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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