*Rangel Alves da Costa
O calango
é bicho estranho. Estranho por que nem parece bicho, e sim com um mandacaru ou
xiquexique, uma pedra ou uma baraúna matuta, mas principalmente com o
sertanejo. Estranhíssimo que assim aconteça, mas é verdade: o calango se parece
demais com o homem do mato, da roça, com o típico sertanejo. E mais ainda com
aquele sertanejo sofredor, lanhado de dor e aflição, por causa das secas e
estiagens. Ora, o calango não arreda pé da terra de jeito nenhum. O tempo pode
estar ruim do que jeito que for, o chão pode estar esturricado do jeito que
for, não restar mais um só graveto por cima do areal espinhento, ainda assim
ele continuará vagando pelo seu meio. Entra em loca e sai da loca, corre de
canto a outro, some para reaparecer, e agindo assim não se diferencia do homem
que fica lidando por todo lugar em busca de tiquinho de comida para a vaquinha
ossuda e faminta. E de repente surge já em cima da pedra quente, girando a
cabeça de lado a outro, igualmente o sertanejo que sai na malhada da casa e
fica atinando a chegada de nuvem, olhando se há alguma formação de trovoada,
sonhando com qualquer pingo d’água. Assim o homem e assim o calango. No sertão,
quando nada mais existir, certamente serão encontrados o mandacaru, a pedra do
tempo, o homem no seu eterno mundo e o calango.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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