*Rangel Alves da Costa
Por anos a
fio e o sofrimento. Sem voz para reclamar, sem nada poder dizer sob pena de ser
levado ao calabouço, o povo tinha de submeter aos constantes abusos do rei.
Imposto para abrir a porta, imposta para andar pelas terras do reino, imposto
para abrir a boca e falar, imposto quando encontrado supostamente meditando, imposto
sobre o contentamento. Sim, um dos impostos mais caros recaia sobre a alegria.
Todo e qualquer um que fosse encontrado alegre tinha de pagar altíssimo
imposto. Mas também não podia entristecer, pois o imposto também não era
barato. Corria o risco de pagar acumulação de impostos se reclamasse dos tantos
impostos cobrados. Quando o coletor chegava, a única palavra deste era que o
reino estava em esforço de guerra contra um poderoso inimigo. Mas qual inimigo,
se o rei não tem coragem nem de confrontar um exército de mulas? Todo mundo se
indagava, porém ninguém era doido de expor seu pensamento. Mas um dia, um pobre
aldeão se dirigiu ao castelo pronto para dar fim àquela situação. Chegando
defronte aos portões, gritou que os guardas fossem imediatamente cortar a
cabeça do rei. Como ninguém foi nem foi avistada qualquer reação, o súdito foi
abrindo caminho até chegar aos aposentos reais. Encontrou um rei triste,
choroso, quase um molambo de gente. Quando o inconformado já ia levantando a
espada em direção à cabeça real, o velho monarca pediu que lhe ouvisse por um
instante. Disse que já não suportava mais ser acusado de cobrar tantos impostos
dos pobres quando, na verdade, quem fazia aquilo e ficava com todo o dinheiro
era uma meia dúzia de auxiliares seus. Mas nada podia fazer, pois ameaçado de
ser jogado aos jacarés. E depois pediu que o súdito lhe cortasse a cabeça. Mas
este se negou e pediu apenas que lhe repassasse a coroa real. Então, com a
coroa, se dirigiu ao lugar mais alto do palácio e gritou: O reinado agora é do
povo e ninguém vai mais pagar esses aviltantes impostos. Mas pensando se tratar
apenas de mais uma manobra real, o povo acorreu furioso ao palácio e cortou a
cabeça do rei. Não do verdadeiro, mas do outro. E tudo continuou do mesmo
jeito.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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