*Rangel Alves da Costa
A navalha
é ríspida, é bruta, é voraz. A navalha é arrogante, é violenta, é insensível. A
navalha é cortante, é flamejante, é sanguinária. A navalha é odiosa, é tediosa,
é aflitiva. A navalha é espinhenta, é quentura, é fornalha. Nela, na navalha,
há ânsia e desejo de ferir, de matar, de sangrar, de esvair a vida. Mas não
temo a navalha. Temo muito mais um olhar, uma voz, um silêncio. Eu que já andei
por cima de brasa viva, já caminhei por cima de pedras e espinhos, já escaldei
em caldeirão de fogo, já bebei do veneno mais mortal, ainda assim prefiro tudo
isso novamente a um olhar, uma voz, um silêncio. E não deixo de ter razão. O
fio da navalha me sangra, mas a cura não é demorada. O fio da navalha me lanha
a pele, mas logo estarei sarado. E o olhar, a voz, o silêncio? Nada mata mais
que um olhar maldoso, frio, covarde. Nada estraçalha mais que uma voz que chega
com cano e espoleta. Nada dizima mais que o silêncio premeditado, calado
somente até o grito eclodir. Prefiro, assim, a navalha. Ou o fio da navalha que
apenas marca e não acaba.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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