*Rangel Alves da
Costa
Mylla é o
nome dela. O nome de minha namorada. O nome de meu amor. Ela gosta que a chame
de Myllinha. Também gosto de chamá-la assim. Mas não importa o nome. Importa a
flor. Importa o amor.
Mas de
repente o meu amor se fez de ventania para sair de minha janela. Sem qualquer
motivo forte que justificasse o voo ligeiro, mas a verdade é que ela já se diz
no ar e pronta para voar, pronta para partir.
Incompreensões
da vida. Ela me quer ao seu lado, eu também quero demais - e até preciso -
estar ao lado dela, juntinho, dentro do corpo e do coração. Mas só porque não
poderei estar num certo dia e num certo momento, então ela se fez de ventania.
Não só de
ventania, mas também de voraz tempestade, de redemoinho devastador, de furação
avassalador. Pela minha ausência num instante, num só final de semana, e ela se
fez cheia de ódios, raivas, agressividades, ameaças, de palavras ferinas, de
punhaladas mortais. Tudo isso para dizer que vai voar.
O meu amor
é tão grande que recuo para não torná-la mais odiosa. Ela esbraveja e tento
apenas ouvir. Ela cospe em fogo suas razões e apenas entristeço tendo que
ouvir. Ela não aceita uma só palavra minha, uma só razão que a faça
compreender, mas ainda assim apenas entristeço. Quero apenas continuar amando o
meu amor.
Quero
apenas continuar amando o meu amor, e isso repeti várias vezes. Mas ela não
ouve. Ela não compreende o motivo justo que tenho de me ausentar por um final
de semana. Um, apenas, um, e ela diz que já não me quer mais, que não é mais
minha namorada, que não é mais nada na minha vida.
E o pior:
vai me ferir, vai me machucar. Ao dizer que vou me arrepender por não estar ao
seu lado neste final de semana, acrescenta dizendo que vai fazer tudo aquilo
que tanto peço que não faça. Que vai curtir, que vai beber, que vai fazer tudo
aquilo que uma pessoa livre faz.
Tenho
máxima certeza que são apenas palavras lançadas em momento de raiva. Ainda
assim, não deixam de ferir, machucar, maltratar. O pior de tudo é que nas
palavras ressoam todo o inverso do que costumamos dizer e prometer um ao outro.
É como se o amor de repente se transformasse no seu mais absoluto inverso.
Mylla,
menina minha. Mylla, minha namorada e mulher, nós não construímos
possibilidades para que assim acabem. Nós não nos comprometemos tanto para que
raivas ou ódios infundados possam ser mais fortes do que nós mesmos. Nós não
estamos brincando de amar, não estamos brincando de nós mesmos.
Mylla, nós
já não somos mais crianças para que um diga apenas não ao outro e depois vá
embora. Nós não somos tão irreais que não compreendamos que o amor se constrói
a cada esforço de luta pelo que desejamos e não pelo nada que surge para
desconstruir.
Um final de
semana, dois dias, não é o fim do mundo. Uma ausência de dois não significa uma
eterna separação. Quem ama compreende o outro, quem ama sabe esperar, quem ama
não se deixa conduzir apenas por ódios.
Quando
segurei pela primeira em sua mão não o fiz em vão. E quando na sua mão apertei,
naquele momento senti que não mais desejava afastá-la de mim. E daí em diante
nós caminhamos de mãos dadas, como devemos continuar pela estrada.
Mylla,
você é bonita demais para embrutecer, você é bela demais para ter na face o
rancor, você é doce demais para ter na boca o azedume de tudo. Mylla, você é
minha demais para num instante de ódio dizer que nada mais é.
Agora
silencio. Mas a voz continua por dentro. E você, Mylla, sabe muito bem o que
pode ouvir no meu coração. Amo-te!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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