*Rangel Alves da Costa
Neste último fim de semana de feriado, já
de viagem marcada para participar de um grandioso evento, eis que peguei a
estrada saindo de Sergipe e seguindo em direção a Floresta, no estado de
Pernambuco.
O evento referido dizia respeito ao Cariri
Cangaço Floresta (Centenário de Nazaré do Pico) e que foi realizado dos dias 12
a 15 passados. O Cariri Cangaço reúne um grupo de estudiosos, pesquisadores e
escritores, que em determinadas ocasiões, em localidades e estados diferentes,
debate temas relacionados ao fenômeno cangaço, ao messianismo, ao beatismo, à
cultura popular e à religiosidade, dentre tantos outros. Desta feita, a
localidade escolhida foi Floresta e seu distrito Nazaré do Pico.
Pessoas de quase todo o Brasil se reúnem a
cada evento e todas vindas de diferentes estados do Brasil. Percorrem centenas
de quilômetros para participar das festividades, dos eventos, das visitas, dos
debates e outros eventos. E eu saí de Sergipe, mais de perto da cidade sertaneja
de Poço Redondo, juntamente com cinco pessoas exatamente para, mais uma vez,
participar de tão importante momento histórico e cultural. E assim por que já
tive oportunidade de participar do Cariri Cangaço Exu, também em Pernambuco.
A viagem em si já se torna um grande
aprendizado. Muitas vezes distante demais, cansativa, pois sempre em veículo,
mas com aproveitamento de cada passo rodado, principalmente pelo fato de
conhecer novas terras, novas fronteiras, feições diferenciadas em uma mesma
região nordestina. Não raro, as placas indicativas dos municípios circunvizinhos
vão despertando interesse tamanho de conhecê-los que logo surge o interesse de
seguir um pouco mais somente para conhecer de perto aquele desconhecido lugar.
Mas desta vez seguimos numa só direção. Mas igualmente de forma surpreendente.
Após Sergipe, atravessando o São
Francisco, adentra-se nas Alagoas para somente depois chegar a terras
pernambucanas. As paisagens nordestinas são caracterizadas pela vegetação seca,
esturricada, com grande predominância de cactáceas e plantas rasteiras e
ressequidas. Parece mais uma só vastidão desolada e triste. Contudo, a situação
se agrava mais ainda quando por longos caminhos não se avista sequer uma
moradia, um bicho, um pé de gente, absolutamente nada. Foi assim que ocorreu no
sertão pernambucano grande parte desta última viagem.
A desolação é tamanha que amedronta. Deveras,
seguem-se por quilômetros e mais quilômetros, vinte, trinta, cinquenta, sem
avistar ao menos um vestígio de presença humana. Tudo deserto, tudo seco, tudo
no chão bruto, tudo queimando de sol e afastado de tudo. Terras certamente com
donos, mas nenhuma moradia, nenhum curral, nenhuma fonte, nenhum bicho
pastando, nem um animal atravessando a pista. E eu comentava como deveria ser
acaso alguém sozinho num veículo tivesse o desprazer de ter um pneu furado ou
qualquer peça do veículo quebrada. Seria o fim do mundo.
Também comentei da fama daqueles lugares
desertos, desolados e desconhecidos nos seus interiores. E por isso mesmo
lugares escolhidos para as viagens cangaceiras cortando os sertões, mas também
para os confrontos com as volantes no encalço dos bandoleiros. No meio do mundo
seco, por entre mandacarus e xiquexiques, pontas de paus e espinhos graúdos, as
emboscadas, as trocas de tiros, as guerras abertas e o sangue dando cor àquele
cinzento da secura da terra.
Aquela região ficou famosa pelas passagens
de cangaceiros e volantes, mas também como esconderijo de malfeitores e outros
renegados. Ali chegavam e ali adentravam pela desolação das paisagens e pelas
dificuldades de serem alcançados, pois somente tendo muito a fazer é que alguém
poderia se propor a entrar naquele mundo de tristeza e solidão e passar dias e
noites fugindo de tudo. Mas certamente que uma situação que doía na alma somente
pela hostilidade e pela estranheza brutal a cada beirada de estrada e mais
além.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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