*Rangel Alves da Costa
Filomena
da Anunciação, mais conhecida como Filozinha, eis o nome de minha namorada.
Nunca vi mulher tão bonita nem por onde alumia o sol nem por onde clareia a
lua.
Mocinha na
idade de flor, um favo de mel na colmeia desse mundão sertanejo. Cabelos lisos
de índia tapuia, pele bronzeada de jambo ou dourada de urucum. Uma bela
paisagem desenha em cima de uma mulher.
Minha
indiazinha é sertaneja, matuta, cabocla, uma flor campestre que de repente
chegou ao meu olhar. Chegou e logo apaixonei. Ela ainda não sabe não, ainda não
sabe que sou seu namorado, mas já faz alguns dias que namoro com ela.
E ela
ainda não sabe por um só motivo: o pai dela. Com efeito, andando pelos matos,
pelas estradas e arredores como sempre faço, resolvi me alongar mais um pouco e
ir bater à porta de um famoso vaqueiro.
E vaqueiro
afamado, cabra valente tanto na pega do boi como em qualquer outra situação. De
pouca conversa, quem o avista logo teme a fama de valentia. Eis que chegando,
depois de bater à porta tomei um susto danado. Fui recebido como o maior dos
amigos.
Contudo,
no primeiro passo que dei depois da porta, mais espantado fiquei. Meio
escondida atrás de uma cortina, como quem queria avistar o visitante, aquela
mocinha mais linda do mundo. Não acreditei no que vi.
O pai dela
conversava e conversava e eu caçando aquele rosto por todo lugar. Pedi um pouco
d’água sem estar com sede, na esperança que fosse ela quem trouxesse a moringa.
E foi ela mesma.
Toda sem
jeito, envergonhada, com roupa de chita e chinelo de dedo, tudo fez para
encobrir seu olhar com os cabelos. Mas vi que me olhava. E muito. Então logo me
apaixonei. Perguntei ao vaqueiro se era sua filha, então tive de ouvir:
“É minha fia
e minha fia vai ser pra sempre. Num nasceu nem pra namorar nem pra casar. E o
cabra que se enxerir por aqui eu faço dele um restim no outro dia”. Que
absurdo, pensei. Mas já estava apaixonado e apaixonado continuei.
Quase
todos os dias eu volto lá para namorar. Mas namorar sem que ela sequer saiba.
Pra namorar sozinho, intimamente, apenas pelo desejo e pelo olhar. Um namoro
inventado apenas pela vontade de namorar.
Sei que
ela me olha, sei que ela me quer. Se não fosse aquela valentia do pai eu já ia pedir
sua mão e tudo mais. Só tem um porém. Ela só me olha, mas nunca abriu a boca
para dizer um tantinho assim.
E tenho
medo de mais de qualquer dia chegar perto dela e ouvir o que nunca desejaria.
Algo assim como um silêncio silencioso demais, profundo e duradouro, talvez
eternizado na sua voz.
Mas ainda
assim não desistirei. Jamais desistirei. Ela é minha namorada e sempre será.
Mesmo sem a palavra, mesmo sem qualquer toque, mesmo sem qualquer beijo, ela
sempre será minha namorada.
Amar assim
é difícil demais. Mas não deixa de ser amor. Quando o coração resolve por conta
própria encontrar seu sorriso, então não há mais o que fazer. Será sempre amor,
mesmo que as esperanças sejam como folhas ao vento.
Mas amo
minha Filozinha. Quem sabe se ela também não me ama. E se na escrita do destino
estiver, não haverá pai nem qualquer coisa que impeça de no seu dedo chegar um
anel dourado de sol e de lua.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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