SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 8 de outubro de 2017

NORDESTINO


*Rangel Alves da Costa


Neste domingo 08 de outubro é celebrado o dia do nordestino. Mas não precisava ter um dia para ser mais nordestino quando todos os dias são igualmente orgulhosos da nordestinidade.
Eu sou nordestino, sertanejo e caboclo da terra cabocla de Poço Redondo, nas distâncias matutas de Sergipe. Assim, triplamente orgulhoso de ser de um chão que vai muito além de ser apenas o de nascimento.
E assim por que ser nordestino é ser diferente. É ser feito de sol e da lua maior, é ter suor nas veias e descendo no corpo, é ser esturricado e molhado para renascer, é estar sempre disposto a lutar pela vida, a lutar pelo pão.
O nordestino tem nas veias um sangue diferente. Não pelo sol, quentura ou calor, mas pelo fervor que lhe é peculiar na luta em defesa de suas causas. O sangue da honradez, do caráter, da sertanejice que lhe torna, “acima de tudo, um forte”.
O nordestino é forte, valente, destemido. É profundamente devoto, religioso, de terço à mão. É quieto, calado, silencioso, mas também desarvorado, apreensivo, nervoso, de sangue no olho. Não aguenta desfeita de jeito nenhum.
O nordestino luta, acima de tudo, para sobreviver. Não escolhe ofício nem lugar para trabalhar. Vai ao sul para ser pedreiro, servente, carpinteiro. Planta no quintal, inventa comida no prato, amanhece e adormece já pensando no amanhã de sua família.
O nordestino gosta de ser ausente das “baladas”, mas é um festeiro de raiz. É dele a alegria maior para o festejo e a dança, para a pisada e o xaxado. Enche-se de encantamento e magia no São Gonçalo, no Pastoril, no Maracatu, no Reisado, no Samba-de-Coco, no requebrado.
O nordestino acorda antes de o galo cantar e já está ajeitando seu aió, seu embornal, seu cantil. Tantinho de farinha seca, de rapadura, do que tiver ao pé do fogão. Despeja um gole de café na boca e ruma levando sua enxada, seu enxadeco, sua pá, seu facão, sua estrovenga.
O nordestino é vaqueiro, é boiadeiro, á cavaleiro, gosto do bicho do mato e do bicho de cria. É homem da vaquejada, da cavalhada, da pega-de-boi, do aboio e da toada. Manda descer uma casca de pau no balcão e depois entoa uma dolente canção de amor pela terra e seus seres espalhados nas vastidões das caatingas.
O nordestino não se cansa de se orgulhar de si mesmo. Tem orgulho de seu gibão, de seu chapéu de couro, de sua perneira, de seu peitoral. Tem orgulho de seu cavalo e de sua sela envelhecida no suor catingueiro, até de seu rosto lanhado de cipó e de ponta de espinho.
Há uma magia no nordestino que não há igual em nenhum outro povo. Nordestino dos terreiros da Bahia. Nordestino da devoção aos dois santos maiores na crença popular: Padim Padre Ciço e Frei Damião. Nordestino de beatos e cangaceiros, de jagunços e anjos de sol, de guerreiros e caboclinhos.
Nordeste terra de Luiz Gonzaga, de Dominguinhos, de Clemilda e Gérson Filho, de Capiba e Patativa do Assaré, de Zé Ramalho e Chico César, de Fagner e de Capinam. Nordeste da Asa Branca, da Luar do Sertão, da Qui nem Jiló, da Vozes da Seca.
Nordeste de Jorge Amado, de Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo, de Rachel de Queiroz, de João Ubaldo Ribeiro, de Ulisses Luna, de Nertan Macedo, de Ariano Suassuna, de Gilberto Freyre, de Câmara Cascudo, de Joaquim Nabuco, de Rui Barbosa.
E o que dizer do Nordeste de Virgulino Ferreira Lampião, de Maria Bonita, de Antônio Conselheiro, do Beato José Lourenço, do Beato Pedro Batista, de Padre Cícero Romão Batista, de afamados coronéis, coiteiros e cangaceiros.
Sou de um Nordestino. Também sou nordestino, sertanejo, sergipano, filho de Poço Redondo. E que orgulho eu tenho de ser assim.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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