*Rangel Alves da Costa
Neste domingo 08 de outubro é celebrado o dia
do nordestino. Mas não precisava ter um dia para ser mais nordestino quando
todos os dias são igualmente orgulhosos da nordestinidade.
Eu sou nordestino, sertanejo e caboclo da
terra cabocla de Poço Redondo, nas distâncias matutas de Sergipe. Assim,
triplamente orgulhoso de ser de um chão que vai muito além de ser apenas o de
nascimento.
E assim por que ser nordestino é ser
diferente. É ser feito de sol e da lua maior, é ter suor nas veias e descendo
no corpo, é ser esturricado e molhado para renascer, é estar sempre disposto a
lutar pela vida, a lutar pelo pão.
O nordestino tem nas veias um sangue
diferente. Não pelo sol, quentura ou calor, mas pelo fervor que lhe é peculiar
na luta em defesa de suas causas. O sangue da honradez, do caráter, da
sertanejice que lhe torna, “acima de tudo, um forte”.
O nordestino é forte, valente, destemido. É
profundamente devoto, religioso, de terço à mão. É quieto, calado, silencioso,
mas também desarvorado, apreensivo, nervoso, de sangue no olho. Não aguenta
desfeita de jeito nenhum.
O nordestino luta, acima de tudo, para
sobreviver. Não escolhe ofício nem lugar para trabalhar. Vai ao sul para ser
pedreiro, servente, carpinteiro. Planta no quintal, inventa comida no prato,
amanhece e adormece já pensando no amanhã de sua família.
O nordestino gosta de ser ausente das “baladas”,
mas é um festeiro de raiz. É dele a alegria maior para o festejo e a dança,
para a pisada e o xaxado. Enche-se de encantamento e magia no São Gonçalo, no
Pastoril, no Maracatu, no Reisado, no Samba-de-Coco, no requebrado.
O nordestino acorda antes de o galo cantar e
já está ajeitando seu aió, seu embornal, seu cantil. Tantinho de farinha seca,
de rapadura, do que tiver ao pé do fogão. Despeja um gole de café na boca e
ruma levando sua enxada, seu enxadeco, sua pá, seu facão, sua estrovenga.
O nordestino é vaqueiro, é boiadeiro, á
cavaleiro, gosto do bicho do mato e do bicho de cria. É homem da vaquejada, da
cavalhada, da pega-de-boi, do aboio e da toada. Manda descer uma casca de pau
no balcão e depois entoa uma dolente canção de amor pela terra e seus seres
espalhados nas vastidões das caatingas.
O nordestino não se cansa de se orgulhar de
si mesmo. Tem orgulho de seu gibão, de seu chapéu de couro, de sua perneira, de
seu peitoral. Tem orgulho de seu cavalo e de sua sela envelhecida no suor
catingueiro, até de seu rosto lanhado de cipó e de ponta de espinho.
Há uma magia no nordestino que não há igual
em nenhum outro povo. Nordestino dos terreiros da Bahia. Nordestino da devoção
aos dois santos maiores na crença popular: Padim Padre Ciço e Frei Damião.
Nordestino de beatos e cangaceiros, de jagunços e anjos de sol, de guerreiros e
caboclinhos.
Nordeste terra de Luiz Gonzaga, de
Dominguinhos, de Clemilda e Gérson Filho, de Capiba e Patativa do Assaré, de Zé
Ramalho e Chico César, de Fagner e de Capinam. Nordeste da Asa Branca, da Luar
do Sertão, da Qui nem Jiló, da Vozes da Seca.
Nordeste de Jorge Amado, de Graciliano Ramos,
José Lins do Rêgo, de Rachel de Queiroz, de João Ubaldo Ribeiro, de Ulisses
Luna, de Nertan Macedo, de Ariano Suassuna, de Gilberto Freyre, de Câmara
Cascudo, de Joaquim Nabuco, de Rui Barbosa.
E o que dizer do Nordeste de Virgulino Ferreira
Lampião, de Maria Bonita, de Antônio Conselheiro, do Beato José Lourenço, do
Beato Pedro Batista, de Padre Cícero Romão Batista, de afamados coronéis,
coiteiros e cangaceiros.
Sou de um Nordestino. Também sou nordestino,
sertanejo, sergipano, filho de Poço Redondo. E que orgulho eu tenho de ser
assim.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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