*Rangel Alves da Costa
Entonce ocê vem dizê que tem a sabedoria.
Haverá de ter, mai coisa de ané no dedo e paletó apretado. Mai assevero que o
saber é de todo mundo, os de ané e os sem ané. As veiz somente os dedo sabe
munto mais.
Eu mermo num troco minha enxada pru caneta de
jeito ninhum. Tomem num troco meu ranchim pru bangalô de jeito ninhum. Se tenho
porta e tenho janela, se tenho quarto e cama, entonce minha casinha é um
palacete.
Sou de ninhum istudo, bem sei. Das letra num
sei de nada e das escrita tomem. Num sei o que ler e munto meno iscrevê. Mai
tomem sei que munto dotô num tem a ciença que tenho. Pode ser fromado, dotô,
mai sei munto mai cuma pobe trabaiadô.
Nasci aqui e vou morrê aqui. Meu mundo é esse
aqui. Minha escola tomem. Os livro tão adiante, na natureza, as letra pru riba
da terra, tudo espaiada em grão. E se sei prantá e coiê, entonce sou dotô no
livro da terra.
E se arguém chega de longe eu nem pregunto
pru lá fora. Haverá mundo mió que esse aqui? Meu sinhô, aduvido que arguém
chegue dizeno que adiante a vida é boa, que tem tufo de mato e catingueira, que
tem passarim e cantiga das foiage. Tem não, meu sinhô, tem não.
Probeza? Sim. Munta. Mai munto deferente das probreza
que os da cidade pensa que nóis tem. Decerto que a probreza da gente, merma
fartando dinhero e mai, é munto mai riqueza que a riqueza que munto pensa que
tem. Mai probe que nóis, a verdade.
Me diga se num é riqueza ter o de comê, o de
bebê, o de sustentá a vida. Pa vivê o homi num percisa de luxo não, percisa de
paz, de panela no fogo, de prato na mesa, de quartinha cum água, de rede pa
discansá.
Uso roupa veia e num troco pru nada. Meu roló
tá no couro e no osso e aina assim é o de uso. Chapéu de paia ou de couro é
quarqué um, tudo eu uso. Mai num ando sujo não. Merma vestino gibão, no
calorzão danado, ninguém vai fazer a vorta pru caso de arripunação.
Drumo cum a cabeça pro riba da peda, se for perciso.
Agora me diga, seu moço, quantos outo que é rico, que vive no tudo ter, adromece
cum a paz pru todo lugá? Eu drumo inté pru riba da cansanção, da urtiga,
debaixo do tufo de mato. E nada me tira o sono não.
Nunca matei nem nunca roubei. Nem rolinha fogo-pagô
tenho matado mai. Me dói pru dento quano vejo a mardade pru mardade. Sou cronta
ferrá o garrote, sou cronta a chibata no lombo. Se dói na gente, entonce pruque
não haveria de doer nos bichinho? Mai tem munta gente mardosa demai.
Drumo poquim. Quem é da terra acorda no madrugá.
O galo aina nem cantou e já tô abrino a porta de traiz. Aceno fogo de lenha,
boto chaleira no fogo, torro perna de preá, se tiver. Adespoi jogo um moio de
farinha e já me apronto pru dia. Despoi disso é só enxada, enxadecos, foice,
facão. E uma vaqueirama de quano em veiz.
Quano o dinhero é pouco a gente inventa o de
comê. Nem sempre nóis faiz a feira, mai sempre tem uma coisinha pa num deixá a
barriga vazia. Caça num existe mai nem eu sou mai de caçr. Certa feita, inté
parma nóis comeu. E num é coisa ruim não. Mai nada iguá a uma fruta do mato.
Bebo minha pinguinha aqui mermo. Sempre um
restim de pinga. Num deixo fartá não. Mai pinga da boa, de raiz de pau, que
tomem seuve cuma remédio. Aceno meu cigarrinho de paia e adespoi me assento
debaixo do umbuzero ou pru riba de um tronco de pau. Entonce cunveuso com a
natureza, os bicho, com a ventania que vem.
Saí daqui quero não. Nasci aqui e agora vou morrê.
Pru riba deu a terra que tanto gosto e que é minha vida. Inquanto isso, levano
a vida mai Filozinha, mai a fiarada, mai o que gosto de ter no meu mundo.
E meu mundo é esse, assim. De lua e de sol,
de noite e de dia, nas lonjura de tudo. Num há mundo mió não, meu sinhô.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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