*Rangel Alves da Costa
O Brasil é o país das maravilhas, muitos já
afirmaram. País do samba, do frevo, do axé, de todos os sons e ritmos. País das
belezas e dos encantos naturais, das maravilhas costeiras e dos deslumbramentos
após as margens. País de um povo sorridente, sempre alegre, festivo,
encontrando sempre motivações para a felicidade. País de culturas e tradições
diversificadas, de uma infinidade de fascinantes manifestações artísticas. Um
país completo em suas riquezas, assim sempre se confirma.
Contudo, o contexto que emoldura e dá cor e
matiz ao país é o mesmo que está na feição, no semblante ou na cara do povo? O
povo brasileiro tem a mesma motivação natural para se sentir orgulhoso, feliz e
de elevada autoestima? A população brasileira convive no seu dia a dia a mesma
grandiosidade da terra e dos quadrantes brasileiros? Ou será que o povo,
reconhecidamente aprazível, acolhedor e festeiro, reflete no seu jeito de ser o
orgulho pelo seu fascinante país?
Como se sabe, a felicidade na vida e pela
vida independe de convívio com a riqueza e a bonança. Pessoas existem que se
mostram felizes ainda que vivendo praticamente na desvalia de tudo. Outras
existem que mesmo milhões não são capazes de trazer qualquer alegria ou
contentamento. Se difícil é a percepção do que realmente produz a felicidade
perante as diversas situações de vida, não será difícil assim saber o que
provoca a infelicidade, o pessimismo e a desesperança.
No contexto de um país, a infelicidade e o
descontentamento se traduzem na percepção do que o mesmo país oferece aos seus,
sua situação econômica e social de momento, bem como de seu poder de superação
perante as crises surgidas. Quer dizer, a infelicidade de um povo perante o seu
país reflete exatamente a forma como este país está cuidando do seu povo. Ora,
ninguém é feliz apenas por que vive num país de infinitas belezas. Mas todo
mundo será feliz se viver e conviver com as belezas e os frutos dos
crescimentos sociais e econômicos.
O samba em si não traz felicidade, mas
segurança pública e a constante presença do Estado sim. As riquezas naturais
não produzem sozinhas as fascinações em um povo que vive carregando nas costas
elevada carga tributária e que a todo instante tem que pagar mais caro por um
remédio ou um litro de combustível. A dimensão continental do país e a sua
diversidade de riquezas históricas e culturais, não supre a dor da miséria
alarmante, da pobreza por todo lugar, da falta de educação de boa qualidade, da
falta de serviços essenciais mínimos à população.
Será feliz um povo que vive num Brasil com a
feição que tem hoje? De um lado a carestia, a magreza salarial, as injustiças e
perseguições dos governantes, o medo, a violência, a arrogância dos poderes e
as burocracias da vida. Do outro, a corrupção desenfreada, as espertezas sem
fim, o poderio do tráfico governando onde não há governo, as drogas dilacerando
vidas jovens e todas as vidas, a falta de esperança e de perspectivas de
superação das constantes crises. Há, pois, como dizer que o povo brasileiro é
um povo feliz?
Recentemente um grupo de pesquisadores da Rede
de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU divulgou mais um
Relatório Mundial da Felicidade. Este documento é elaborado a partir da opinião
das pessoas sobre o seu grau de felicidade em relação aos destinos de seu país.
Segundo o relatório, a Finlândia é o país mais feliz do mundo, tomando a
posição da Noruega. Os dois sempre se revezam no contentamento de seus
habitantes. E o Brasil?
O Brasil vem declinando. Não é ainda um país
totalmente infeliz, mas em queda livre nos níveis de satisfação de seus
habitantes. Dentre os 165 países pesquisados, o Brasil ocupa a 28ª posição, mas
caiu 6 posições com relação à pesquisa anterior. Os cinco países mais felizes
são a Finlândia, a Noruega, a Dinamarca, a Islândia e a Suiça. E com menor
votação, ocupando o menor índice de felicidade, está Burundi. A Venezuela foi o
país cuja queda na felicidade foi mais acentuada.
Na pesquisa, os estudiosos consideram alguns
aspectos como definidores dos níveis de satisfação das populações. São
consideradas as satisfações perante o bem-estar, a qualidade da sobrevivência,
o poder aquisitivo, a satisfação com as instituições políticas, aspectos da
segurança, dentre outros aspectos. As variáveis determinantes na pesquisa são:
renda, expectativa de vida saudável, suporte social, liberdade, confiança e
generosidade. A opinião das pessoas sobre tais aspectos define o nível de
felicidade proporcionado por determinado país.
O declínio dos níveis de felicidade em países
como a Venezuela e o Brasil logo demonstram suas motivações. Não é preciso
enveredar em detalhes, mas a situação caótica do país venezuelano está plenamente
refletida na infelicidade de sua população. No Brasil não é diferente. O povo
está convivendo com uma situação de precariedade social jamais vista ao longo
de sua história. Daí ser um povo não só infeliz como muito mais pobre e
desesperançado. E tudo fruto de um engenho político e governamental que vem
colocando o povo na senzala da sobrevivência.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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