SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 12 de abril de 2018

O BRASIL E O RELATÓRIO DA FELICIDADE



*Rangel Alves da Costa


O Brasil é o país das maravilhas, muitos já afirmaram. País do samba, do frevo, do axé, de todos os sons e ritmos. País das belezas e dos encantos naturais, das maravilhas costeiras e dos deslumbramentos após as margens. País de um povo sorridente, sempre alegre, festivo, encontrando sempre motivações para a felicidade. País de culturas e tradições diversificadas, de uma infinidade de fascinantes manifestações artísticas. Um país completo em suas riquezas, assim sempre se confirma.
Contudo, o contexto que emoldura e dá cor e matiz ao país é o mesmo que está na feição, no semblante ou na cara do povo? O povo brasileiro tem a mesma motivação natural para se sentir orgulhoso, feliz e de elevada autoestima? A população brasileira convive no seu dia a dia a mesma grandiosidade da terra e dos quadrantes brasileiros? Ou será que o povo, reconhecidamente aprazível, acolhedor e festeiro, reflete no seu jeito de ser o orgulho pelo seu fascinante país?
Como se sabe, a felicidade na vida e pela vida independe de convívio com a riqueza e a bonança. Pessoas existem que se mostram felizes ainda que vivendo praticamente na desvalia de tudo. Outras existem que mesmo milhões não são capazes de trazer qualquer alegria ou contentamento. Se difícil é a percepção do que realmente produz a felicidade perante as diversas situações de vida, não será difícil assim saber o que provoca a infelicidade, o pessimismo e a desesperança.
No contexto de um país, a infelicidade e o descontentamento se traduzem na percepção do que o mesmo país oferece aos seus, sua situação econômica e social de momento, bem como de seu poder de superação perante as crises surgidas. Quer dizer, a infelicidade de um povo perante o seu país reflete exatamente a forma como este país está cuidando do seu povo. Ora, ninguém é feliz apenas por que vive num país de infinitas belezas. Mas todo mundo será feliz se viver e conviver com as belezas e os frutos dos crescimentos sociais e econômicos.
O samba em si não traz felicidade, mas segurança pública e a constante presença do Estado sim. As riquezas naturais não produzem sozinhas as fascinações em um povo que vive carregando nas costas elevada carga tributária e que a todo instante tem que pagar mais caro por um remédio ou um litro de combustível. A dimensão continental do país e a sua diversidade de riquezas históricas e culturais, não supre a dor da miséria alarmante, da pobreza por todo lugar, da falta de educação de boa qualidade, da falta de serviços essenciais mínimos à população.


Será feliz um povo que vive num Brasil com a feição que tem hoje? De um lado a carestia, a magreza salarial, as injustiças e perseguições dos governantes, o medo, a violência, a arrogância dos poderes e as burocracias da vida. Do outro, a corrupção desenfreada, as espertezas sem fim, o poderio do tráfico governando onde não há governo, as drogas dilacerando vidas jovens e todas as vidas, a falta de esperança e de perspectivas de superação das constantes crises. Há, pois, como dizer que o povo brasileiro é um povo feliz?
Recentemente um grupo de pesquisadores da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU divulgou mais um Relatório Mundial da Felicidade. Este documento é elaborado a partir da opinião das pessoas sobre o seu grau de felicidade em relação aos destinos de seu país. Segundo o relatório, a Finlândia é o país mais feliz do mundo, tomando a posição da Noruega. Os dois sempre se revezam no contentamento de seus habitantes. E o Brasil?
O Brasil vem declinando. Não é ainda um país totalmente infeliz, mas em queda livre nos níveis de satisfação de seus habitantes. Dentre os 165 países pesquisados, o Brasil ocupa a 28ª posição, mas caiu 6 posições com relação à pesquisa anterior. Os cinco países mais felizes são a Finlândia, a Noruega, a Dinamarca, a Islândia e a Suiça. E com menor votação, ocupando o menor índice de felicidade, está Burundi. A Venezuela foi o país cuja queda na felicidade foi mais acentuada.
Na pesquisa, os estudiosos consideram alguns aspectos como definidores dos níveis de satisfação das populações. São consideradas as satisfações perante o bem-estar, a qualidade da sobrevivência, o poder aquisitivo, a satisfação com as instituições políticas, aspectos da segurança, dentre outros aspectos. As variáveis determinantes na pesquisa são: renda, expectativa de vida saudável, suporte social, liberdade, confiança e generosidade. A opinião das pessoas sobre tais aspectos define o nível de felicidade proporcionado por determinado país.
O declínio dos níveis de felicidade em países como a Venezuela e o Brasil logo demonstram suas motivações. Não é preciso enveredar em detalhes, mas a situação caótica do país venezuelano está plenamente refletida na infelicidade de sua população. No Brasil não é diferente. O povo está convivendo com uma situação de precariedade social jamais vista ao longo de sua história. Daí ser um povo não só infeliz como muito mais pobre e desesperançado. E tudo fruto de um engenho político e governamental que vem colocando o povo na senzala da sobrevivência.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: