*Rangel Alves da Costa
Sim, acredite. Houve um tempo em que eu era
mais velho. E houve outro tempo que eu era mais velho ainda. Tão velho já fui
que ninguém me enxergava mais na velhice, e sim como um menino de braço na
plenitude da criancice. Depois dessa velhice, quando já não tinha mais idade
que coubesse em mim, então comecei a regressar para ser o que sou agora: um
menino-velho e um velho-menino em meio à estrada. De agora em diante, para o
lado que eu for, sempre estarei indo para a criancice, para quase voltar ao
ventre materno. Já não terei palavras inteligíveis, já não andarei com meus
próprios pés, já não farei as escolhas que desejar, já não vestirei sozinho
minha roupa nem me banharei escondendo minha nudez. Tudo os outros farão em mim
e por mim. Quando muito, chorarei o choro longo que toda criança chora,
resmungarei por qualquer coisa que não goste por perto de mim. Na minha boca,
uma papinha, um mingau, um gole d’água, um remédio. Apenas isso. Ora, serei
criança e assim serei. E assim por que a estrada que me faz retornar à meninice
é a mesma que me leva à velhice. E o que é um velho carcomido de tempo senão um
menino? Toda velhice plena é uma criancice em plenitude. Fomos de berço um dia.
E no dia da velhice retornaremos ao mesmo berço. E pensarão que choramos por qualquer
coisa. Mas não. Ou querendo papinha na boca ou tendo saudade da estrada que
agora já vai sumindo nas distâncias do nublado olhar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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