*Rangel Alves da Costa
Há um mar no telhado. Há sempre um mar no
telhado. Daí que há também um porto, um cais, gaivotas, águas, ondas, areias,
azuis e distâncias. E triste de quem não tiver esse mar, de quem não fizer essa
viagem noturna. Um mar no telhado que é imenso, que é enorme, que é infinito. E
quanta viagem é feita singrando suas distâncias. Contudo, nem todo mundo tem um
mar assim. Somente o tem aquele que ao deitar avista acima um telhado. Sim, a
cumeeira e telhas. Não sei se é bonito o mar do forro da casa, todo
esbranquiçado e sem vida. Bonito mesmo é o mar avistado lá em cima no telhado.
Mar avistável e penetrável por aquele que, de olhos abertos, olha para o alto e
começa a pensar, a imaginar, a refletir, a meditar. Então o telhado se
transforma em cais, em porto, em água, em barco, em navio, em cais. E a viagem
logo começa a ser feita, eis que o pensamento vai viajando, vai singrando, vai
sumindo nos azuis e nas correntezas. De repente a pessoa nem imagina mais estar
mirando o telhado. As telhas sumiram, a cumeeira sumiu. Ali somente um mar, o
seu mar, a sua viagem. Até que adormeça e aporte em algum lugar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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