SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 14 de abril de 2018

Palavra Solta – o silêncio dos gatos



*Rangel Alves da Costa


Estou em Poço Redondo, meu berço de nascimento no sertão sergipano. Já é tarde da noite, como se diz por aqui, pois já perto das onze. Há silêncio por todo lugar. O tempo chuvoso fez com que as pessoas se recolhessem mais cedo. Contudo, o de estranhar mesmo é o silêncio dos gatos. Noutros dias, por estas horas, parecia uma procissão no telhado e por todo lugar. Era gato de toda cor e todo tamanho por todo lugar, mas principalmente azucrinando a vida com seus sons, ruídos, gemidos, miados fúnebres e lamentosos. Nada mais insuportável que estar deitado e tendo que ouvir os gemidos frenéticos, atônitos, compassados. Gatos uivando no telhado igualmente lobos em suas estepes. Mas hoje silenciaram. Talvez com medo da chuva, mas sumiram. Suas dores e seus amores devem estar noutros escondidos, suas queixas e lamentações devem estar noutras paragens. Quem sabe se já adormecidos e sonhando com telhados em noites enluaradas e suas saudades sendo ecoadas. Melhor assim. Melhor ainda não sonhar que de repente eles novamente surgiram para as lamentosas canções noturnas.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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