*Rangel Alves da Costa
Estou em Poço Redondo, meu berço de
nascimento no sertão sergipano. Já é tarde da noite, como se diz por aqui, pois
já perto das onze. Há silêncio por todo lugar. O tempo chuvoso fez com que as
pessoas se recolhessem mais cedo. Contudo, o de estranhar mesmo é o silêncio
dos gatos. Noutros dias, por estas horas, parecia uma procissão no telhado e
por todo lugar. Era gato de toda cor e todo tamanho por todo lugar, mas
principalmente azucrinando a vida com seus sons, ruídos, gemidos, miados
fúnebres e lamentosos. Nada mais insuportável que estar deitado e tendo que ouvir
os gemidos frenéticos, atônitos, compassados. Gatos uivando no telhado
igualmente lobos em suas estepes. Mas hoje silenciaram. Talvez com medo da
chuva, mas sumiram. Suas dores e seus amores devem estar noutros escondidos,
suas queixas e lamentações devem estar noutras paragens. Quem sabe se já
adormecidos e sonhando com telhados em noites enluaradas e suas saudades sendo
ecoadas. Melhor assim. Melhor ainda não sonhar que de repente eles novamente
surgiram para as lamentosas canções noturnas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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