*Rangel Alves da Costa
Um livro bíblico de Jó é um verdadeiro
cântico do sofrimento, mas também de fé. É a demonstração da fé em meio às
contínuas angústias e aflições. Jó é testado na tentativa de se afastar de seu
Deus, mas ainda assim mostra-se sempre fiel. Padece, mas transforma o
padecimento em superação.
Além de perder filhos, bens, riquezas e uma
vida cheia de benesses, de repente Jó se vê tomado pelas próprias dores da
alma, pelas doenças, pelos males do mundo. Contudo, resiste, persiste na fé,
sendo sempre levado pela esperança de que os justos alcançam a salvação.
O Livro de Jó se caracteriza, pois, por ser a
prova mais contundente de devoção a Deus. Os desatinos sofridos, as dores
sofridas, os tormentos vividos, nada disso foi maior que a sua crença. Quanto
mais padecia mais acreditava, quando mais se afligia mais sentia que seria
recompensado pela dádiva sagrada.
Com as devidas compensações, o Livro de Jó
muito se aproxima do livro da vida do homem sertanejo. Não que este um dia
tivesse sido rico e depois de tudo perdido tivesse sido tentado na sua fé, mas
pelo constante sofrimento que carrega consigo e ainda assim jamais abandona sua
convicção religiosa.
Diz o Livro de Jó: “Havia um homem na terra
de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e
desviava-se do mal”. Diz o Livro do Homem, do homem sertanejo: Havia um homem
na terra sertão e este era íntegro, trabalhador, cuja devoção religiosa o
tornava um servo de Deus sobre tudo.
Diz o Livro de Jó: “Que veio um mensageiro a
Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles; E deram
sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só
eu escapei para trazer-te a nova”. Diz o Livro do Sertanejo: Que veio a
estiagem e a tudo dizimou, o rebanho secou e a planta morreu, no fundo do
tanque só restou o barro endurecido e petrificado.
Diz o Livro de Jó: “Então Jó se levantou, e
rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E
disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o
Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor”. Diz o Livro do Sertanejo: O que
é meu me foi dado por Deus, e se é do seu desejo que tudo se vá, então que seja
feita a sua vontade.
Diz o Livro de Jó: “Em tudo isto Jó não
pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma”. Diz o Livro do Sertanejo: Que seja
feita a vontade de Deus. Não sou eu quem tem o poder de mandar a chuva cair, de
fazer com que a planta renasça, de trazer de volta a força nos animais. Tudo na
vontade de Deus e sua justiça será feita segundo o seu tempo.
Por que o sertanejo é assim, é assim como um
Jó que sofre, que lamenta, que se aflige por dentro, que sente na pele e na alma
todo o tormento do mundo, mas jamais renega sua fé. O sertanejo possui tamanha
crença nas forças sagradas que sempre acredita no amanhã como um dia de
renascimento.
Por que o sertanejo é assim, é assim como um
Jó que depois de tudo perdido continua acreditando que tudo será reconquistado.
O gado que berra faminto amanhã terá pastagem farta, o tanque seco amanhã já
estará transbordando, a fome do homem e do animal é apenas um instante de privação,
pois logo haverá fartura.
Por que o sertanejo é assim, é assim como um
Jó que nunca esmorece ante as forças do mal e nem nega sua fé e o seu Deus perante
as falsas promessas. Na casa sertaneja nunca deixará de existir a imagem santa,
a vela acesa, o oratório, o terço, o rosário, a Bíblia. No sertanejo nunca
silencia a prece, nunca se mostra inútil o sino da capelinha que brada na hora
santa.
Jó foi salvo pelo seu destemor e pela sua fé.
O sertanejo é sempre salvo por sua abnegação de fé e por sua contínua esperança
nos dias melhores que virão em nome do Senhor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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