*Rangel Alves da Costa
Vivemos, sim, num mundo permeado de elefantes
e de baratas. Ao menos pelo que os elefantes acham que são baratas, que são
rasteiras, miúdas e podem ser pisoteadas a qualquer instante. Os elefantes,
estes sim, sempre se reconhecendo como tal, pois graúdos, enormes, imensos,
ameaçadores, de ataques devastadores. Numa savana, eis os elefantes e as
baratas. Os imensos paquidermes com a feição de Estado, de governante, de
político, de autoridade, de mandachuva. Já os insetos rastejantes com a feição
de gente, de povo, de desvalido, de pobre, de mero sobrevivente na exclusiva e
indigna ordem social. E chegam os elefantes com suas patas enormes, com sua
lentidão preguiçosa, mas de ataque voraz, logo procurando aqueles que têm como
nojentos, asquerosos, abjetos: as baratas. Ora, perante o olhar paquiderme, ser
povo é ser nada, é ser ninguém, é ser a abjeção do mundo. Perante o olhar
elefantídeo, ser gente é ser o esterco, o verme, o abominável. Na sua altura e
no seu tamanho, sem a mínima preocupação com o que está abaixo - que é o
povo-barata -, o que se tem é a pisada esmagadora, é a patada dizimadora. E
tanto faz que a pobreza fique totalmente esmagada sob suas patas. Importa
seguir adiante, cada vez mais volumoso e ameaçador. E para trás ficam os restos
esmagados daquilo que nenhuma valia possuía perante o poder.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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