*Rangel Alves da Costa
Cadê meu chapéu de couro, meu alforje e meu
gibão? leve essa caneta dourada e esse papel feio e de tanta letra e me traga
meu aió de cipó trançado e o meu embornal e pergunte a Zefinha se vai botar
baião-de-dois no fogão. Cadê minha lua tão sertaneja e meu sol tão chamejante?
Leve esse sapato brilhoso e esse terno vaidoso e egoísta e me traga uma cuia de
araçá e um punhado de quixaba e pergunte a Joaninha se amanhã vai quarar rouba
na cacimba. Cadê meu tempo, minha vida, meu passo naquela estrada? Olho a
ventania no varal e me pergunto se a vida é assim também. As craibeiras tardam
tanto a chegar que choro a finura da catingueira. Tenho tanto medo que tudo
seja assim que peço meu rosário de contas. E Bastião me vem dizendo que não há
mais capim nem palma, silencio porque já ouvi de Totonho que já não há mais nada
lá fora. Enquanto isso Delourdes canta uma velha canção para não chorar, mas
não há quem não chore se o gado não berra e o galo não canta mais. Sofro e
choro num sertão assim castigado de braseiro sobre a terra, mas ainda assim
muito mais contente que viver fingindo alegria distante. Por isso deixo pra
trás meu anel de doutor e toda essa minha esnobês e vou caminhar pela terra
sertão de chinelo de dedo como meu pai fazia.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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