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quinta-feira, 22 de julho de 2010

SONHOS QUE VIVEM E QUE MORREM (Crônica)

SONHOS QUE VIVEM E QUE MORREM

Rangel Alves da Costa*


Buscando sempre viver melhor, o ser humano alicerça sua vida em imaginários que se existissem na realidade visível seriam como seguranças, redomas, braços que abraçam e enlaçam para livrar as pessoas das situações de perigo e conduzi-las para lugares seguros. E não somente isto, pois existem ainda planos e as possibilidades existentes somente na mente de cada um, mas se tornadas também visíveis não faltaria o melhor a ninguém e todo mundo alcançarei o desejado em segundos.
Falo de coisas inexistentes para alguns, mas que para muitos são como a própria extensão da pessoa, possuem infinito significado, são os próprios indivíduos em outras dimensões. Falo da fé, da crença, dos anjos da guarda, dos seres de luz, da devoção ao santo, da certeza protetora da existência de Deus e do seu filho, da luta motivada por forças superiores, das fantasias que se arraigam feito verdades e dos sonhos. Sonhos sim, pois o homem que vive sem sonhos não poderá jamais acordar para o melhor.
Nesse contexto da necessidade do ser humano em buscar sempre algo superior e até desconhecido para se proteger e realizar seus planos, os sonhos não surgem como entes que auxiliam o homem, mas o próprio homem procurando realizar-se naquilo que por vias terrenas se torna difícil, quase irrealizável. E daí surgirem as possibilidades de se ter tudo, fazer de tudo, mesmo que somente em pensamentos que se apiedam da luta vã e seguem por aí construindo perspectivas e criando realidades passageiras
Geralmente definem o sonho, enquanto ato pós adormecer, como a representação mental de coisas ou fatos enquanto a pessoa dorme; é uma visão ou imaginação surgida durante o sono; é a sequência de ideias vãs e incoerentes às quais o espírito se entrega; é o efeito da emancipação da alma durante o sono. Para a ciência, é uma experiência de imaginação do inconsciente durante nosso período de sono; é o conjunto de imagens, lembranças ou impulsos inconscientes, geralmente distorcidos, que se experimenta durante o sono e que pode ser parcialmente memorizada.
Por outro lado, enquanto ato de sonhar de olhos abertos, o sonho é comumente visto como a utopia, imaginação sem fundamento; ideia ou ideal defendidos com paixão; visão do irrealizável; desejo que acompanha a pessoa precisamente naquilo que tem dificuldade de alcançar; ficção comparável a um sonho e a que muitas pessoas se entrega mesmo acordadas; coisa vã, fútil, transitória, sem consistência, sem alcance, sem duração; coisa vaporosa e inconsistente; visão de desejos reprimidos; recordação de coisa efêmera e que pouca impressão deixou na alma; ideia com a qual nos orgulhamos; idéia que alimentamos; pensamento dominante que seguimos com interesse ou paixão.
Os sonhos sonhados após o adormecer são sonhos eternos, pois se realizam dentro daqueles objetivos do momento, do enredo mentalizado e do seu alcance, mesmo que distorcidos e incompreendidos ou recortados pelo acordar repentino. Estes sonhos não morrem, pois podem voltar sempre com novas nuances, novas roupagens. Diferentemente dos sonhos sonhados acordados, que são desacreditados todas as vezes que as pessoas veem cada vez mais distante aquilo que queria ao seu lado. Estes são os sonhos que morrem, e são velados pela descrença, pelo desencorajamento, pela sensação de impotência e pela perda de vontade de lutar.
Assim, os sonhos acordados são imaginários que morrem porque o homem, não podendo contradizer e confrontar os sonhos surgidos no adormecer, simplesmente não se contenta com a realidade nem quer transformá-la em algo próximo de um sonho. E porque esse desejo infinito e que não se contenta com nada é um desejo inalcançável por querer demais, é que o sonho morre, se desfaz. E depois, quando ali o sonho jaz, vem a necessidade de querer viver renascendo sonhos que não voltam mais.





Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Caca disse...

Os sonhos a que você se refere como aqueles que morrem, são exatamente os que conduzem as nossas vidas. A despeito de todo o desestímulo que recebemos do meio, das relações interpressoais e relações cotidianas, não podemos abandoná-los. É aí que começamos a sucumbir ou a ser manipulados, quando abandonamos os sonhos que nada mais são do que vontades, desejos, perspectivas. Muto boa a crônica, Rangel. Abraços. Paz e bem.