Rangel Alves da
Costa*
Dias atrás
o ex-presidente Lula se autodenominou de cobra jararaca, que depois de ser
injustamente atacada prepara seu revide com todas as forças e meios que uma
serpente aviltada pode ter. E no contra-ataque o bote e o veneno mais letal que
possa existir.
Após ser
levado pela Polícia Federal para prestar depoimento, em discurso à militância
petista Lula afirmou que “se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça,
bateram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve”. Certamente, dali em
diante, passaria a mostrar o que uma cobra de rabo pisado é capaz de fazer.
Afirmou,
pois, o ex-presidente que pisaram no rabo da cobra, mas não na sua cabeça.
Significa dizer que uma cobra de rabo pisado logo ergue sua cabeça e contra-ataca
com presas agulhadas cheias de veneno. Quando o bote é certeiro, logo danosas
consequências serão suportadas pelo agressor.
Quem já
pisou no rabo de uma cobra sabe muito bem o que Lula quis dizer. Talvez a honra
maior de uma serpente esteja mesmo no rabo, pois no instante seguinte a pisada
as presas peçonhentas já estarão deixando suas picadas mortais. Apenas duas,
mas pode ser o fim de qualquer um.
Daí que é
preciso cuidado, que é preciso ter o máximo de precaução para não pisar em rabo
de cobra. Já que o revide pode ser tão perigoso e até mortal, ao invés de pisar
no rabo deve-se logo sufocar sua cabeça. Ou esmagar, acachapar, achatar de tal
modo que perca toda sua força de reação.
Sobre as
palavras de Lula, disse dom Darci José Nicioli, bispo-auxiliar da Basílica de
Nossa Senhora Aparecida, no sermão dedicado a graça de pisar a cabeça da
serpente, que será uma graça divina pisar a cabeça daqueles que se
autodenominam jararacas. É preciso anular o mal com todas as forças do bem.
“Peça, meu
irmão e minha irmã, a graça de pisar a cabeça da serpente. De todas as víboras
que existem e persistem em nossas vidas”. Pisar a cabeça “daqueles que se
autodenominam jararacas. Pisar a cabeça da serpente. Vencer o mal pelo bem, por
Cristo nosso Senhor”. Eis, em síntese, o sermão de dom Darci.
Ainda nas
palavras do bispo-auxiliar, Maria pisou a cabeça da serpente e ela não a tocou,
pois todo o mal foi anulado. É hora de pisar a cabeça da serpente, de qualquer
serpente que ameace a vida e a paz. É preciso anular a força do mal e vencer o
mal pelo bem. Assim, uma resposta bíblica às ameaças dos novos tempos.
Por trás
da simbologia da serpente do mal há um perigo real envolvendo a peçonhenta. A
jararaca é uma das cobras mais perigosas que existem. Seu bote é certeiro e
mortal, sua presa fina, pontuda, agulhada, injeta a morte em poucos segundos.
Talvez por isso Lula tenha se espelhado no seu poder de ação.
Do reino
animalia, da classe dos répteis, da ordem dos escamados, da família dos
viperídeos e dos crotalídeos, da espécie bothrops, a jararaca é a serpente que
mais faz vítims no Brasil. A peçonha da jararaca é potente, letal, fatal. Sobre
seu corpo há um tecido escamoso, com desenhos marrons, que serve de camuflagem
ideal para emboscar suas presas.
Diferente
da cascavel, que possui uma espécie de chocalho na cauda anunciando sua
prontidão para o ataque, a jararaca se mantém quieta, silenciosa, preparando o
bote. O seu veneno provoca dor imediata, inchaço, hemorragia, bolhas, gangrena,
abcessos, necrose e insuficiência renal aguda.
Serpente
de hábitos noturnos, rastejantes, procura camuflagens mesmo na escuridão. Mas
age também durante o dia, quando se mistura a folhagens e ao mato rasteiro para
atacar sem ser percebida. Quando avistada, então prontamente ergue parte do
corpo para se lançar ao bote. Não é tarefa fácil fugir de um ataque da jararaca,
vez que sua impulsão é tamanha que a pessoa quando se dá conta já está mordida,
ferida, envenenada.
O próprio
Lula ensinou que deixar uma jararaca viva é a pior escolha que alguém pode
fazer, pois haverá troco, retribuição do mal pelo mal, revide com redobradas
consequências. Seja discurso de ódio ou promessa acalorada, a verdade é que se
deve evitar, a todo custo, que tal veneno consiga alcançar o calcanhar da
nação.
Será
preciso, então, matar a jararaca. Mas matá-la não pisoteando sua cabeça, dando
de porrete nas suas vértebras, ferindo-a até o exaurimento. Mas com a arma
ensinada pela própria cobra no seu afã de ataque, no seu ódio reprimido, na sua
sedenta vontade de envenenar.
Como matar
jararaca? Muito fácil. De vez em quando a cobra se desfaz de seu escudo de
escamas para tomar banho nas fontes, nos tanques e riachos. Ao retornar e não
encontrar seu tecido escamoso, ela acaba se revirando toda, tomada de fúria
raivosa, picando o seu próprio corpo e depois morrendo de enlouquecida
exaustão.
Com a
serpente de Lula pode acontecer a mesma coisa. Sua carapuça já foi retirada, todo
o seu ser e fazer já estão descobertos, e ele agora se encontra no mesmo estágio
da cobra furiosa. O passo seguinte será avistá-lo bebendo de seu próprio
veneno. E então já não ameaçará mais ninguém, pois serpente alquebrada dos pés
à cabeça.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Meu caro escritor Rangel Alves Costa: acredite você que tenho praticamente todos seus artigos e crônicas no arquivo do computador. Contudo, o texto de hoje - pela sua excelente análise -, é de grande importância para minha interpretação. Parabéns meu caro escritor.
Antonio Oliveira
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