*Rangel Alves da Costa
Sim, a
vida é como varais estendidos pelos quintais. Olhos molhados, corpos
respingando em suor, braços abertos, sonhos esvoaçantes, vidas estendidas ao
querer da brisa e da ventania. Nos quintais antigos, as velhas senhoras
estendiam roupas e depois sentavam debaixo dos sombreados dos pés de paus. As
saudades chegavam e os olhos molhavam enquanto os panos enxugavam. Diante dos
olhos, aqueles panos se embalando, querendo voar, mais pareciam folhas secas se
desprendendo de galhos e seguindo ao longe. O medo da partida, a lembrança dos
que partiram, os temores e as aflições. Hoje quase não existem quintais, mas os
varais continuam diante de cada olhar que consegue avistar além de um arame
estendido. Ali não apenas uma roupa estendida, mas uma presença tão forte que
até se imagina alguém de braços abertos em chamados ou acenos de adeus. Ali os
lenços encharcados que num instante já querem voltar aos olhos molhados. Vá ao
seu quintal, olhe o seu varal. Veja se você está ali querendo voar ou se apenas
está enxuto para o recomeço.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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