*Rangel Alves da Costa
Impressionante
como as biografias nascem mentirosas, principalmente as autobiografias ou
histórias contadas sobre a própria vida. Nestas, absolutamente ninguém mostra
sua verdadeira face, sua verdadeira feição ou expõe realisticamente seus passos
na vida. Todos são como uns pobrezinhos, uns sofredores, que nasceram quase na
lama e alavancaram na vida por esforço próprio. Tudo mentira. A mais deslavada
mentira.
Citei isso
preliminarmente como mote para me intrometer num caso que sequer me diz
respeito, mas que precisa ser comentado pela proporção tomada. Falo da troca de
acusações envolvendo Devinho Novaes (talvez o maior popstar do mundo, segundo
seus mais de cem fãs clubes só em Poço Redondo) e sua mãe.
Verdade
que não assisti sua participação num programa da Record nem sei quais foram
suas palavras ao falar sobre sua vida, sua carreira e sua família. Segundo a
mãe, o filho até chorou para alimentar as mentiras contadas. Contudo, assisti e
ouvi, em 06m:46s, um vídeo publicado por esta rebatendo as afirmações lançadas
por Devinho na televisão. Afirma a mãe que tudo contado pelo filho, dizendo que
ela ficava com o seu dinheiro, que não ajudou no lançamento de um CD (não
ajudou porque não tinha dinheiro para tal) e que foi abandonado pela família
materna, não passou de ilações mentirosas, dentre outras afirmações.
Em vídeo
gravado após a fala da mãe, eis que Devinho apenas confirmou como verdadeiras
as palavras anteriormente ditas, acrescentando que foi expulso de casa sem
direito sequer de levar suas roupas e seu teclado e que encontrou refúgio
somente na casa da avó paterna, e esta até ajudou no lançamento de seu CD.
Por outro
lado, ainda naquele vídeo caseiro diz a mãe, em prantos e tomada de espanto e
nervosismo, que a periferia de Aracaju sabe muito bem quem era Devinho Novaes,
um enturmado com pessoas ruins, usuário de drogas e que, ela mesma, por
diversas vezes e para evitar o pior, já havia pagado dívidas suas. E que ele,
acaso não seguisse a carreira de cantor, já havia sido morto ou preso.
E mais: preferiu
ficar com a avó paterna e não com a mãe por ingratidão, pois ela foi quem
sofreu ao ser abandonada na gravidez e por nove meses carregou na barriga
aquele que agora a trata como um monstro. Diz que é pobre, mora em casa de
aluguel, mas que tem dignidade para não querer avistá-lo nunca mais.
Não se
sabe, contudo, onde está a verdade, se com Devinho ou com sua mãe. Há de se
afirmar, entretanto, e acaso sejam verdadeiras as afirmações da mãe, que a
vitimização criada por Deivinho, ao querer passar na televisão uma imagem quase
de menino abandonado, sofredor de todas as dores do mundo, e fazendo isso
maculando a imagem familiar, certamente que não foi uma atitude acertada.
Ora, não é
raridade que um artista venha de família pobre. A pobreza não é indignidade de
ninguém. Não é raro que a pessoa tenha lutado muito até alcançar seu lugar ao
sol. Mas não se fazendo de vítima e acusando quem quer que seja. Devinho, ao
menos no vídeo onde rebate a fala da mãe, nada diz sobre os motivos da expulsão
de casa por ele mesmo alegada. Se foi mesmo expulso de casa, por que isso
aconteceu Devinho? Você não disse os motivos, ou terá sido por causa daqueles
motivos alegados por sua mãe?
Numa outra
hipótese, talvez - realmente não sei - Devinho tenha sofrido pelas mãos da
família, mas não é enlameando o passado que ele vai justificar o seu brilho de
agora. Talvez também jamais tenha sido usuário de drogas, o que o tornaria num
menino exemplar e injustiçado pela ação da família. Mas tudo isso só pode ser
confirmado pelo meio onde vivia e onde fez amizades. Quem conheceu e conhece
Devinho sabe quem é Devinho. Eu não.
Mas tem
que assentar os pés no chão. Fala em seu sucesso como se fosse algo para a
eternidade, como se a escada de agora fosse sempre subindo e subindo. Ledo engano.
Quem sequer sabe caminhar não pode subir escadas. Ademais, deve se preocupar em
aproveitar seu momento e não dar uma de coitadinho para buscar piedosos, pois
num meio artístico onde o maior sucesso do mundo já não será mais ouvido no dia
seguinte. E então estará sem os amigos de agora, sem a família e completamente
sozinho.
Juízo
Devinho, juízo. Quando sua mãe lhe procurar não diga somente “oi” não. Corra e
dê um abraço apertado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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