*Rangel Alves da Costa
Poço Redondo, cordiais saudações! De início,
peço que não se incomode com palavras tão apressadas e dizeres que não traduzem
meus reais sentimentos. Pois saiba, minha querida Poço Redondo, que o amor
nunca é demonstrado na sua verdadeira plenitude.
Você é uma moça bela, linda, lindíssima,
minha querida Poço Redondo. Filha de um sertão de luta, queimado de sol, ainda
assim demonstra na sua face um sorriso tão singelo que poucos conseguem
avistar. Porém confesso, minha Poço Redondo, muitos que vivem sua vida
simplesmente a ignoram.
Sua beleza é um mistério, querida Poço
Redondo. Seu fascínio é inexplicável, minha Poço Redondo. Tanta magia e encanto
nascidos da própria raiz de onde vingou, pois muito já fizeram e ainda fazem
para que perdesse de vez toda a sua formosura.
Que coisa mais estranha, minha Poço Redondo.
Jamais consegui entender como pessoas existem que ao invés de valorizar sua
beleza e acrescer mais encantos, simplesmente torcem para que se enfeie, para
que definhe, para que fique desastrosa aos olhos estranhos, e até daqueles do
próprio berço.
Olho você tão bonita, querida Poço Redondo, e
logo me lembro da história daquela menina tão linda que vivia à janela. Era
tanto ciúme mais tanto ciúme, que aqueles que não a conheciam logo imaginavam
que era a moça mais feia do mundo. Veja Poço Redondo, o que são capazes de
fazer.
Mas aquela menina tão linda, e tão bonita que
era, era como flor em primavera que nenhum outono lhe mudava a feição. Assim
também com você, minha querida. Por mais que digam isso e aquilo, por mais que
neguem ou reneguem sua beleza, jamais deixará de ser tão maravilhosamente bela
aos olhos de quem a ama.
Contudo, juro que temo muito. Não sei bem o
que acontece, mas a continuidade de sua beleza se deve muito mais ao que já tem
sobre si do que mesmo a qualquer mão que chegue ofertando uma graça nova.
Parece mesmo que ninguém quer ajudar você a ser cada vez mais bela.
Sobre você, de vez em quando me dizem muito.
E de repente fico até entristecido pelo que ouço. Dizem que você anda
descuidada, sem o devido cuidado com a aparência, entristecida como se ao
relento estivesse. Mas o que fizeram contigo, querida Poço Redondo, para que
renuncie assim à sua grandiosidade?
Sei que veste roupa nova, de chita, de cores
belas. Mas somente a roupa não é tudo não, minha querida Poço Redondo. Cadê o
cuidado com o restante das belezas que possui? E logo você que jamais deixou
que a humildade fosse motivo para esconder o melhor e mais belo que possui.
Reencontre-se, revista-se de canto novo, minha bela.
Sim, minha querida Poço Redondo, afeiçoa-se
àqueles lírios do campo que a Bíblia tanto ensina. Você, na sua humildade, no
seu jeito simples e sertanejo de ser, nos seus pés descalços e suores na pele,
em suas mãos calejadas e mormaços na face, ainda assim a mais bela entre todas.
Olhai os lírios do campo, minha Poço Redondo, e logo sentirá que sua feição
brilha mais que todo o ouro de Salomão.
Oh minha querida, como eu gostaria de estar
sempre ao seu lado para viver os seus dias. Mas juro que não posso. E por isso
mesmo transbordo de tanta saudade. Perante a sua janela, diante de sua porta, perante
cada canto de sua existência, eu seria um enamorado poeta a cantar suas belezas
sem fim.
E declamando todo o amor sentido, certamente
eu diria: Abraço-te minha querida, a ti entrego minha vida, pois um filho
apaixonado é mais que enamorado para ser seu defensor, e lutando com todo amor,
cuidar de você como flor, e amando cada vez mais, seja na alegria ou na dor...
Despeço-me, minha bela Poço Redondo. Mando um
abraço ao filho, mando abraço ao irmão, abraço todo o sertão!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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