*Rangel Alves da Costa
A noite inteira de gatos miando, gemendo, gritando, atiçando o
telhado. Gemidos tão medonhos que causam espantos, miados tão tristonhos que
causam arrepios. Talvez os amores derramados debaixo da lua, talvez as saudades
choradas na noite, talvez os desejos aflorados na dor da solidão. E assim a
noite inteira até a madrugada e além. E assim também todas as noites e
madrugadas dos dias. Sempre os mesmos gatos com os seus noturnos de estranhezas
e assombros. Contudo, difícil imaginar que a aurora chegue e a manhã desperte e
de repente um gato ainda continue gemendo suas aflições no telhado. Mas assim
acontece. Ao ouvir sua voz, logo abro a porta e miro em direção ao alto, no
telhado, para avistar o bichano na sua agudeza melancólica sem fim. Já é manhã
e ele continua ali, de repente miando uma infinita dor, de repente gemendo uma dor
indecifrável. Então logo imagino o percurso da noite até chegar àquele triste
instante. A noite inteira na solidão, a noite inteira desejando uma companhia,
a noite inteira sentindo saudade, e após a madrugada a certeza de nada ter
acontecido. Por isso tamanha dor na manhã e a inércia de tudo. Nem vontade de
descer do telhado possui. O gato não imagina, contudo, que o meu telhado fica
também ali e que choro e sofro a mesma dor da solidão e da saudade.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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