*Rangel Alves da Costa
Dona Totonha teve um mundo igual ao mundo de
todo mundo. Mas agora, já envelhecida demais, Dona Totonha passou a ter um
mundo próprio. Mora sozinha, já não é avistada como noutros tempos, quando
muito é vista varrendo a calçada e os arredores. Mora sozinha não, pois não
desaparta de seu bichano de estimação. De vez em quando também aparece
acompanhada de um cachorro. Recebe poucas visitas e não vai mais à casa de
ninguém. Quando é avistada sentada na porta de casa, o forasteiro logo a
imagina como uma velha maluca, pois sempre conversando sozinha. No seu diálogo
consigo mesma, até mesmo em voz alta, sempre envolve situações e fatos do
passado. São as palavras de dentro, das recordações, das relembranças e
nostalgias. Chora, lacrimeja, sorri, silencia. Depois volta a dizer e dizer o
que o seu mundo pede. Quando perguntada sobre o que tanto conversa sozinha,
certamente ela vai dizer que nunca está falando sozinha, pois na presença de
Bastião, de Fliozinha, de Jeremunda, de Leotério. Seu esposo e seus filhos.
Todos já partidos para o além, mas ali conversando com ela, com a Velha
Totonha.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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