*Rangel Alves da Costa
O mundo está cheio de covardias. Todas as
pombas brancas simbolizando a paz já foram feridas de morte e desde muito
lançadas em poças ensanguentadas. Será sempre hipocrisia pregar a concórdia e
depois lançar ódios e violências.
Ferir por ferir. Eis a prática humana mais
corriqueira. O sadismo da violência não estava somente na chibata sangrando o
corpo negro, mas continua voraz em todos os tipos de violência, seja
proveniente da autoridade, do policial ou da pessoa comum.
Ferir por ferir, apenas isso. Quando um se
imagina superior ao outro, então logo o escraviza. Acreditem, mas ainda há
gente que pensa que pode usar a sola dos sapatos para esmagar pessoas ou sua
caneta para dar rumo aos destinos humanos.
Será que há sentimento de uma época distante
espelhando ainda a escravização, a submissão, o mando doentio? Será que o homem
de hoje ainda não desapartou da crença do poder como meio de apenas oprimir,
ferir e escravizar?
A ferida é aberta e sangra, e quando aberta logo
o lamento, logo a palavra de repúdio e de revolta. Contudo, nem a marca é
cicatrizada e novamente o lanho, o corte, a agressão, por cima da mesma ferida
anteriormente chorada. E assim numa eternidade de cicatrizes que jamais se
fecham.
Veja que ideia genial a do homem, vejam que
uso o homem dá ao seu poder de realização: premedita um atentado para matar
dezenas, centenas ou até milhares de pessoas. Não só premedita como coloca em
prática sua obsessão doentia pela violência. É o instinto do mal nos seus mais
perversos açoites.
Será que há insanidade em todo aquele que
pratica violência gratuita, que provoca perdas irreparáveis, que fulmina de
morte uma dezena de pessoas? Logicamente que não. Apenas a maldade se
expressando na sua forma mais cruel do atingir: a sede cega de destruir, de
matar, de dizimar.
É um ferir por ferir, e simplesmente ferir,
como se a vida humana, a do outro, a da vítima, fosse um verdadeiro nada. O
algoz levanta a espada e desce sobre o pescoço, o feitor levanta a chibata e a
desce com força no lombo negro, o inocente é levado ao paredão e fuzilado. E
tudo isso na maior normalidade do mundo. Mas isso é normal da vida, é normal do
ser humano?
Não deveria ser, mas sempre foi e cada dia se
torna mais requintado o uso da violência. Fere por que ferir e está acabado,
deve ser assim que se imagina. Mata por matar e tudo está resolvido, deve ser
assim que se pretende. É a mera banalização da vida, o brinquedo que se
pretende ter na vida humana.
Perante muitos, o ser humano é apenas uma
barata que deve ser pisoteada. Para muitos, a vida humana nada mais que algo
reciclável que num instante é jogada fora. Para grande parte das pessoas, tanto
faz que a ação cause dor, sofrimento, que mate, pois sempre importa mesmo
acionar o brinquedo da destruição.
Mas não é ferir apenas com a arma, o punhal
ou outro artefato, mas também pela palavra, pela arrogância, pelo
autoritarismo. Tão afiado quanto o punhal é a arma do mando, do poder, da
política, da chefia, da gerência, do cargo, do poder delegado.
Tudo é ferir por ferir. E nesta relação,
aquele que fere apenas vê o outro, a vítima, como sua antítese. Ele pode tudo e
o outro nada. Inclusive viver. Este, que sequer pode viver perante a sanha do
outro, é aquele mesmo que já quase não vive temendo as consequências da
violência. E desta acaba sendo vítima.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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