*Rangel Alves da Costa
Virgulino
Lampião não anda gostando nada das explicações estapafúrdias, mirabolantes e
desengonçadas, que a todo dia surge a seu respeito. Querem porque querem que a
sua valentia, o seu caráter, o seu comportamento e as suas propensões, sejam
explicadas à luz do laboratório, do experimento, da pesquisa, da Ciência,
enfim. Ao invés de compreender o homem, querem coloca-lo num tubo de ensaio.
Então
Virgulino Lampião pede apenas que olhem para trás, que analisem a sua história
familiar, que observem as condições e as circunstâncias de sua vida, que
procurem conhecer as motivações para o mundo cangaceiro que veio depois. Segundo
o Capitão, ao invés de compará-lo a qualquer outra coisa - como se fosse um
rato de laboratório - primeiro deveriam procurar conhecer o que fez da criança
um bicho, o que fez do homem uma fera, o que fez do cangaceiro uma coisa do
outro mundo. E certamente avistariam o medo, a violência, a perseguição, a
injustiça, o sangue derramado. E não pelas suas mãos. Somente depois que a
sangria estava aberta é que não se pôde nunca mais estancar.
Pessoalmente
eu bem compreendo a propensão ao cientificismo de muitos daqueles que tentam
conhecer e explicar Lampião através de estudos, teses e teorias. Contudo,
Virgulino Lampião é impossível de entender e muito menos de explicar. Na
verdade, Lampião apenas nos espanta. Absurdamente espanta, deixa-nos
boquiabertos e arrebatados! Quanto mais a pessoa imagina conhecê-lo mais ele
cuida de negar, de dizer e repetir, o quanto é vago nosso conhecimento sobre
sua pessoa e os seus modos de pensar e de agir. E como entender e explicar um
homem que é, no todo e ao todo, apenas uma interrogação ou, quando menos, uma
espantosa exclamação?
Padim Ciço
pode ser teorizado perante os supostos milagres e pela atuação sacerdotal e
política. Frei Damião pode ser explicado perante seu compromisso de uma
religião dos humildes, suas pregações nas Santas Missões e na sua abnegação
religiosa. Antônio Conselheiro pode ser estudado perante seu idealismo
político-religioso e seu misticismo exacerbado. Pedro Batista pode ser
analisado perante seu compromisso de peregrinação, sua força espiritual de cura
e aconselhamento e seu poder de atração de devotos. Mas como explicar Lampião,
preclaros cientificistas, nobres freudianos, junguianos ou de outras escolas
psicanalíticas? Será que a Psicologia tem as respostas? Será que até a
Parapsicologia possui as respostas?
Mais
difícil ainda entendê-lo e explicá-lo por que Virgulino Lampião nasceu dotado
de todas as ciências do mundo. Sim, Lampião foi a Ciência em pessoa. Nele há
Psicologia, Psicanálise, Psicopatologia, Geopolítica, Geografia, Estratégia
Militar, Política, Administração, Religião, Misticismo, Biologia, Direito,
Arte, Filosofia, tudo, absolutamente tudo. O apontamento de apenas alguns
fatores ou aspectos para explicar a grandeza (para o bem ou para o mal) que foi
este homem, sempre recairá apenas em recorte explicativo.
Do mesmo
modo não adianta ir além ou aquém na tentativa de conhecer ou de explicar
Lampião. Tanto assim que o que é dito é logo refutado, desmentido, dito de
outra forma, ainda assim muito distante da realidade. E simplesmente por que
ninguém conhece Lampião. Digladiam em palavras sobre o seu nascimento e sobre
sua morte, diz isso e aquilo, mas nada que se assente como pedra da verdade.
Daí indagar: Por que não se sabe sequer se o cangaço lhe era um modo forçado de
vida ou se continuou como líder por tanto tempo apenas pelo prazer da luta?
Mas deixe
pra lá. Segundo o próprio Virgulino Lampião me segredou durante o Cariri
Cangaço Poço Redondo, só há uma maneira de entendê-lo e explicá-lo: Tentar segurá-lo
a cada vento que passa!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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