*Rangel Alves da Costa
Vidas secas. Moringa molhada da noite. Pote
na trempe rachando. Prato de estanho sem pão. Fogão de lenha sem fogo. Gota de
chuva sem pingo. E a nuvem chega, a nuvem passa e o sol em clarão no sertão. E
o menino chora. E o bicho muge. E a vida é da morte. O viver é da sorte. E o
homem sofre. E o mato geme. E a vida é da morte. O viver é da sorte. Uma prece
sem voz. Uma vela apagada. Uma nuvem seca. Um sertão de fogo. Um fogo em brasa.
A vida geme. A vida grita. A vida espanta. A vida é feia. Tudo tão feio. No
osso. No uivo. No gemido. No berro. Na fornalha. No vento que sopra a solidão.
Na ventania que leva a solidão. Na tempestade que a tudo transforma em nada.
Nada. Apenas uma estrada. Vidas na estrada. Vidas tão mortas. Vidas tão secas.
Vidas num sertão que não é quimera, ficção ou ilusão. Está bem aqui. Além da
porta, beirando estradas, mais adiante. E seca e aflige não um desconhecido,
mas um conterrâneo. Alguém que, como eu, é sertanejo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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