SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 10 de junho de 2018

Palavra Solta – vidas secas



*Rangel Alves da Costa


Vidas secas. Moringa molhada da noite. Pote na trempe rachando. Prato de estanho sem pão. Fogão de lenha sem fogo. Gota de chuva sem pingo. E a nuvem chega, a nuvem passa e o sol em clarão no sertão. E o menino chora. E o bicho muge. E a vida é da morte. O viver é da sorte. E o homem sofre. E o mato geme. E a vida é da morte. O viver é da sorte. Uma prece sem voz. Uma vela apagada. Uma nuvem seca. Um sertão de fogo. Um fogo em brasa. A vida geme. A vida grita. A vida espanta. A vida é feia. Tudo tão feio. No osso. No uivo. No gemido. No berro. Na fornalha. No vento que sopra a solidão. Na ventania que leva a solidão. Na tempestade que a tudo transforma em nada. Nada. Apenas uma estrada. Vidas na estrada. Vidas tão mortas. Vidas tão secas. Vidas num sertão que não é quimera, ficção ou ilusão. Está bem aqui. Além da porta, beirando estradas, mais adiante. E seca e aflige não um desconhecido, mas um conterrâneo. Alguém que, como eu, é sertanejo.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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