*Rangel Alves da Costa
A fake news está na moda. A disseminação de
notícias falsas para deterioração de alguns candidatos e proveito de outros
pleiteantes, tem se tornado algo tão corriqueiro quanto o anúncio de mais um
aumento dos combustíveis. Todo dia, toda hora. Mas por falar em fake news,
haverá notícia mais falsa e desacreditada que o próprio postulante a cargo
eletivo, seja a deputado, a senador ou a governador?
Não há candidato que não seja uma informação
falsa, que não seja uma desinformação da verdade, que não seja uma inversão do
real. Não há candidato a deputado, a senador ou a governador, que não procure
se sustentar através de discursos mentirosos e impraticáveis, de velhas
promessas mirabolantes, do tratamento do eleitor como se fosse massa de
manobra. Então, e por que reclamar, esbravejar, ameaçar e “prometer levar às
barras da justiça”, aquele que planta uma notícia falsa a seu respeito, se eles
próprios - os políticos -, são os primeiros a desrespeitarem a sociedade?
Mas o que é mesmo, conceitualmente, essa tão
propalada fake news que até foi objeto de legislação no processo eleitoral
brasileiro? Nada mais que a propagação de uma notícia falsa. Fake seria, então,
toda informação noticiosa que não represente a realidade, mas que é
compartilhada como se fosse verídica, principalmente através das redes sociais.
O objetivo maior de uma fake news é polemizar sobre algo ou pessoa, provocando
a desonra ou deterioração de sua imagem Por sua natureza astuciosa, polêmica,
logo provoca atração e começa a se propagar com alta intensidade e alcançando
extensas camadas da população.
Os tempos pré-eleitorais são um campo fértil
à propagação das fake news. Não somente os fanáticos e os partidários, mas
certamente também os grupos políticos e os escritórios de campanha, logo se incumbem
de trabalhar imagens adversas dos demais pleiteantes. Catam velhas notícias,
buscam nos baús de velharias as acusações recaídas sobre os concorrentes,
aprimoram-se em desencavar fatos e situações que possam atingir a imagem
política e pessoal. Mas também agindo na invenção e na semeadura de fatos novos
que, mesmo de deslavada mentira, possam provocar reações negativas.
A todo instante surgem notícias falsas, tanto
novas como requentadas. Algumas são tão mal elaboradas que até provocam
gracejos ao invés de irritação. É o jogo do vale tudo e tudo vale. Como os
punhais da língua já não ferem mais a quem se escuda no tanto faz, a saída
encontrada é chacoalhar o lamaçal pele rede virtual. Nos grupos de bate-papo,
noticiosos e até privados, não demora muito e surge uma informação espantosa.
Político que foi condenado, que foi flagrado em situação criminosa, que está
sendo acusado de um monte de coisas. Na notícia maliciosa, pouco importa a data
ou a validade da informação, mas apenas a tentativa de enlamear aquele que é
mostrado em situação vexatória.
Contudo, logo surge um pequeno
questionamento: as promessas irrealizáveis, os discursos impraticáveis, os
ataques políticos e pessoais feitos pelos candidatos, as mentiras disseminadas
pelos próprios postulantes perante os eleitores e o que é dito no jogo político
e tudo mundo sabe que não passa de conversa pra boi dormir, não seriam
situações de fake news? Noutras palavras, a fake news se perfaz apenas quando
há ofensa ao político ou também quando este ofende, com inverdades, o seu
opositor, o eleitor e a sociedade, através das redes sociais?
Ora, sendo o fake uma notícia falsa, logo se
tem que não existe – no mundo inteiro – gente mais falsa e mentirosa que o
político. E o que ele diz, sempre eivado de inverdades, não se pode ter como
notícia falsa? Logicamente que sim. E mais: toda vez que um candidato investe
na disseminação de notícias falsas sobre o seu opositor, certamente que também
estará fazendo fake de si mesmo, vez que logo vem a ideia de que um sujo não
pode falar do mal lavado, de que um corrupto ou desonesto igual não pode
espalhar acerca da desonestidade e da corrupção do outro.
De qualquer forma, o que se tem a
disseminação de notícias inverídicas, de imagens deturpadoras, de fotografias
forjadas para incriminar ou para reavivar alianças políticas espúrias. Não
precisaria, contudo, ter tanto trabalho para tal. Em cada biografia política –
ao menos na sua maioria -, sempre uma página de podridão, de improbidade, de
promessas descumpridas, de vergonhosos conchavos, além de outros labirintos
lamacentos e putrefatos. Tem-se como exercício de suma desonestidade que um
candidato, agora, queira passar a imagem de bom moço e enlamear seu opositor.
Tudo farinha do mesmo saco.
Como diz o ditado, que atire a primeira pedra
o político cujo saco revirado não faça surgir mais lixo que semente.
Utilizar-se de fake news para falsear verdades e realidades é, como se diz, não
olhar para o próprio rabo. E com vergonha daquilo que igualmente fez. Ou pior,
muito pior.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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