*Rangel Alves da Costa
Cirineu, cabra sertanejo, cabra valente,
homem de fibra e de tenacidade, com tudo na feição dizendo de sua normalidade.
Conforme costumava dizer, pessoa de sorte por nunca ter sentido sequer uma dor
de cabeça ou qualquer tipo de dor. Resfriado sequer chegava perto dele, mais
parecendo uma rocha protegida de todos os malefícios do mundo. Contudo, de hora
pra outra endoidou, enlouqueceu, abilolou de vez. Há de se indagar como um
cabra sãozinho, bonzinho da silva, e num instante perde a razão, fica desajuizado,
a maluquice em pessoa. Como tudo se explica perante o povo, então as motivações
para o abilolamento do homem foram se espalhando de boca em boca, como uma
ventania de fuxicos, maldades e um desregramento de asneiras sem igual. Sabe o
que disseram sobre o endoidamento do cabra? Que a culpada tinha sido a saia
curta demais de uma sirigaita novinha que passou rebolando a bunda. Que tinha
sido uma ida ao mercadinho: entrou bonzinho e maluqueceu diante dos preços. Que
tinha sido um tal lobisomem que havia entrado pela janela do quarto e deixado
sua esposa nuazinha e toda tremelicando. Que tinha sido um vento mal que passou
quando ele abriu a boca pra falar mal de quem nunca tinha se importado com a
sua vida. Que tinha sido por causa do preço do gás de cozinha. Que tinha sido
quando avistou o carro de desligamento da energia e ele estava com conta
atrasada. Um monte de coisas. Mas nada que seja verdadeiro, pois bem outro o
real motivo do seu endoidamento: Totonha, a boazuda. Boazuda e destruidora de
lares. Ela olhou duas vezes pra Cirineu e se maliciou todinha. Passou a língua
nos beiços e piscou o olho. Então o coitado deixou a esposa, pintou os cabelos,
comprou calça justa de menino novo, e depois endoidou. Totonha passou com outro
e ele endoidou.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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