*Rangel Alves da Costa
Encontrei Mariazinha derreada no umbral da
janela e tão triste estava que mais parecia uma flor murcha em desolação.
Aproximei um pouco mais e senti que a bela mocinha pranteava, então perguntei
por que chorava assim, vez que tão bela como flor na janela, talvez uma
Cinderela e dona da felicidade. Mariazinha apenas me respondeu: “Por nada”.
Insisti na indagação e novamente ela falou bem baixinho, soluçando e com voz
quase inaudível: “Por nada. Foi um cisco no meu olho”. Também entristecido,
silenciei algum instante para depois, de costas pra ela, dizer: “Os ciscos,
Mariazinha, causam mesmo um aperreio danado, mas geralmente num só olho e os
seus dois olhos lacrimejam igualmente. Também acho que a ventania traz muito
cisco por aqui. Todos os dias entram ciscos no seu olho, Mariazinha? Desculpe
dizer, mas todo dia encontro você assim entristecida e chorosa. Toda dia eu
passo por aqui e sempre a encontro derramando uma infinidade de lágrimas. Pode
me dizer, sou seu amigo, o que está havendo Mariazinha? Sei muito bem que a
alma possui ciscos inseparáveis, sei muito bem que a solidão causa ciscos até
dolorosos demais. Mas sua lágrima não é trazida pelo grão na ventania, mas pela
felicidade que você deixa que o vento leve. Chore não. Amanhã voltarei e você
poderá me dizer a verdade”. Dei menos de cinco passos e logo ouvi a voz de
Mariazinha: “Mas ele não me quer!”. Era o que eu esperava ouvir. Então, olhei
na sua direção e disse: “Ele tá certo de não querer. Quem quer uma mulher
chorona? Sorria, coloque flor no cabelo, seja a mais linda do mundo. Depois
feche essa janela e vá ser flor. Toda paixão deseja uma rosa”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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