*Rangel Alves da Costa
Não, nunca diga adeus. Adeus é gesto ou
palavra dolorosa demais para ser dita. E em cada expressar um rompimento que
vai de uma margem a outra do coração.
Nunca diga adeus. Jamais acene em gesto de
despedida. A mão é mais frágil que o coração e o seu sinal pode fazer mais
sofrer do que distanciar.
Nunca diga adeus. Não diga a palavra mais
triste de se dizer e depois encharca mil lenços de lágrimas. E nos varais
estender-se ainda em dolorosos prantos.
Nunca diga adeus. Não abra a janela para
avistar na distância aquele que de repente parte. Acaso olhe atrás, é como se
gritos bradassem o desejo do retorno.
Não, nunca diga adeus. Não acenda e depois
sopre a vela por que nada mais resta a iluminar. É no vazio e no silêncio que a
chama se faz tão necessária para reacender a vida.
Nunca diga adeus. Nada vai impedir o trem de
passar. Nada vai impedir a carruagem de seguir. Nada vai impedir de o apito
soprar em despedida. Sempre haverá retorno!
Nunca diga adeus. Os olhos que brilharam de
encantamento não merecem naufragar em sofrimentos e desilusões. Mirar os
horizontes e saber que a vida é cheia de estradas.
Não, nunca diga adeus. Nunca diga adeus por
que quem ama jamais desaparta de seu amor, quem tem o seu bem dentro do coração
jamais ficará na solidão da distância.
Nunca diga adeus. Não cimente a despedida com
suas lágrimas, não regue as flores tristes com suas lágrimas, não assente a
poeira do caminho com suas lágrimas.
Nunca diga adeus. Quem partiu vai ficar, quem
vai ficar vai partir. As fronteiras das despedidas se abrem diante de todo
passo. Basta um segundo e já será outra direção.
Nunca diga adeus. Acaso não consiga impedir a
partida, então que haja a compreensão de que não há convívio de eternidade. Que
a saudade boa permaneça como laço inseparável.
Não, nunca diga adeus. Aquele que parte não
quer dizer adeus. Aquele que parte não segue em alegria ou contentamento. E por
querer ficar, então não haverá separação.
Nunca diga adeus. As flores de plástica caem,
as flores do caqueiro murcham, as flores do jardim morrem. Que não morra caía
nem murche ou morre também. Precisa viver.
Nunca diga adeus. Dói demais, é lancinante, é
torturante de nem poder suportar. Mas se sofre assim é pelo amor sentido. E se
der adeus abdica de continuar à sua presença.
Não, nunca diga adeus. Olhe para os quadros
envelhecidos na parede. Olhe para os álbuns amarelados que restam nos baús.
Tudo está ali. Nada foi dado adeus.
Nunca diga adeus. O namoro desfeito, a
relação rompida, o noivado acabado, o casamento chegado ao fim. Mas ninguém
morreu. Então não diga adeus.
Nunca diga adeus. O amor paixão não suporta
um laço desfeito. Mas ninguém nasceu entrelaçado. O coração vai saber o momento
certo de novamente busca a ponta da linha.
Não, nunca diga adeus. Ninguém vive de porta
e janelas fechadas. Ninguém se enclausura sempre num mundo de angústia e
solidão. O sol sempre chama. E há a luz da vida.
Nunca diga adeus. Sinta-se como sendo aquele
a quem o adeus está sendo dado. Você entristece. Você vai chorar. Não vai
querer fazer chorar a quem não merece sofrer.
Nunca diga adeus. Você sabe que o sol nasce e
o sol se põe. Todo dia é assim. E assim também com a lua e as estações. Aquilo
que deseja que volte, haverá de voltar sem adeus.
Nunca diga adeus. Choramos os mortos e as
despedidas. Mas se com a saudade fica todo o amor sentido, então que se
resguarde a presença no peito sem jamais dizer adeus.
Não, nunca direi adeus. Nem quero que me dê
adeus. Ou existo agora ou nunca existirei. E se existo agora sempre estarei
presente. E se existe agora sempre será presença.
Até mais! Eis a palavra. Até breve! Eis a
promessa. Desde a terra à eternidade tudo será reencontro. E sem adeus!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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