*Rangel Alves da Costa
Deus meu, Deus meu, cuma é bom ser sertanejo
assim cuma eu sou. Me avexo não, visse. Num me aperreio nem um tiquinho se vem
o outo e diz que sou matuto, mateiro, um catingueiro quarqué. Sou mermo, apois
sou sertanejo. E tanto sou que tomem sou preá, sou macambira, sou bonome, sou
calango, sou siriema do costado. Sou candiero e placa de luz, sou vela de
oração e rosaro de tanta fé. Sou casinha e sou casebe, sou quintá e tufo de
mato. Sou a lua e sou o sol, sou a secura da terra e a pranta verdosa que vinga
do chão. Sou José e sou Maria, sou Zefinha e Bastião. Sou caçador e sou
vaqueiro, sou lavrador e toadero. Sou prato de estanho e pote de barro. Sou
caneca de alumino e arguidar de cozinha. Sou Alcino e sou Zé de Julião. Sou
Zefa da Guia e Metre Tonho, sou Dona Guiomar e sou taboca de pife. Pru mode que
tá rindo deu? Ria não seu moço. Aió, embornal e canti é tudo de uso, desna um
tempo de caçada grande. Pru mode de que tá rindo deu, seu moço? Mai num avexo
não. Fi da gota serena se eu me importar um tantim assim. Num me importo não
pruquê sei o valor que tenho e não o valor que me dá. De ouro é meu chapéu de
couro, pranteado é meu peitoral. Meu cavalo tem nome de santo: Jó. O mermo
sofredor que nem eu, mai o mermo lutador que nem todo sertanejo. Pode vim e
vortá, se quiser. Fico aqui. O cabra que nega sua terra num merece nem nascer,
munto meno dizer que é dessa pátria chamada sertão, dum reinado benzido por
Padim Ciço do Sermão e Virgulino Lampião.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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