Rangel Alves da Costa*
Há logo que se indagar: Para apoiar
determinada candidatura, a liderança política deve pensar somente em si mesma,
nos frutos que desse apoio possa receber, nas determinações e propensões de seu
partido ou dos anseios da população que lhe apoia e dá sustentação? E ainda: A
liderança tem o direito de barganhar, de buscar conveniências pessoais, quando
a decisão deveria partir de uma lógica não só partidária como de respeito a seu
eleitorado?
Tais indagações deveriam ser induvidosas para
aqueles políticos de peso nas suas decisões de apoiamento a candidatos a cargos
majoritários. Induvidosas porque não se concebe uma liderança nata que não
tenha firmes decisões, posicionamentos coerentes e politicamente claros. Ao
menos seria assim se a arte da política não fosse transformada em repugnante
feira de conveniências e com desrespeito a uma série de fatores essenciais.
Ora, o simples fato de apoiar um ou outro
candidato envolve aspectos muito além de um mero ato de dizer que escolheu
aquele porque é o melhor. Melhor para quem? Daí haver um contexto maior que
deveria ser observado no ato de decidir. E tal contexto envolve esferas como a
cúpula nacional do partido ao qual a liderança está filiada, o posicionamento
político do partido em nível federal, a atuação na esfera estadual, os
agrupamentos ou coligações, bem como os objetivos partidários a curto e longo
prazo.
Mas envolve muito mais, principalmente em
nível estadual e no contexto onde o político construiu sua liderança. O
político, ainda que alçado ao reconhecimento de liderança maior do partido no
estado, não pode decidir à revelia dos ditames nacionais. E se nacionalmente o
partido já tem posições firmadas, já sabe quem deva apoiar ou não, estará blefando
a liderança que continuar transparecendo indecisão na sua escolha. Ainda que o
partido dê carta branca para decidir, jamais será conveniente se prolongar em
cima do muro. Neste aspecto, visível desrespeito ao eleitor.
O eleitor que não encontra firmeza na
liderança que confiou deixará de apoiá-lo nas eleições seguintes. Este o
caminho lógico. E pior ainda, eis que a indecisão poderá provocar um dano
irreparável no futuro político da liderança, principalmente se o se votante ao
menos desconfiar que a demora em apontar qual seja o seu candidato possui
motivações muito mais pessoais que partidárias. Sim, porque o eleitor poderá
chegar à conclusão que o objetivo maior da liderança não é escolher o melhor
para governar, mas sim o melhor para si mesmo.
E quando a liderança comete o erro de só
pensar em si mesmo, nos seus conchavos e projetos políticos, e não no futuro de
seu estado e sua população, estará irremediavelmente fadado a não contar mais
com o apoio que imagina ter nos futuros pleitos. E isto ocorre pelo simples
fato de que o povo não vive mais atrelado às tais lideranças como antigamente,
não faz mais parte de currais eleitorais e nem está mais inteiramente acometido
de cegueira política como muitos ainda imaginam.
Ainda que não aconteça com a totalidade da
população votante, a verdade é que o peso da consciência crítica está
fragilizando muito as estruturas daqueles que ainda se afeiçoam às velhas
raposas da política e suas carcomidas práticas eleitoreiras. A massa cada vez
mais pensante, ainda que não repudie de vez as antigas e ainda prevalecentes
práticas interesseiras e vergonhosas na política, não mais admite que o
político ou governante disponha de seu mandato ou liderança a seu bel-prazer e
faça disso um tabuleiro de conveniências.
A liderança política, principalmente aquela
que objetiva alcançar o poder eletivo, deve saber que não está atrelado somente
aos anseios pessoais. Não deve tomar decisões por conveniência própria nem
tentar iludir seus eleitores com as escolhas feitas. Como afirmado, o eleitor
tirou a rédea e o cabresto que lhe colocava numa posição de cegueira e
submissão para se firmar como alguém que merece respeito. E tal respeito também
parte das decisões claras, objetivas e coerentes tomadas pela liderança. Por
consequência, tornou-se muito mais difícil impor que eleitores votem em
determinado candidato simplesmente pelo fato de que é o melhor para os planos
pessoais do líder. Pode até ser o melhor para a liderança, mas não para
governar o estado, por exemplo.
Ademais, o líder só se legitima perante seus
correligionários e eleitores quando não tenta impor candidato. Para este ser
apoiado, haverá também de ser apoiado pelo partido e principalmente pelo
votante. Querer fugir disso, fazer diferente, é estar agindo egoisticamente, fazendo
barganha com o voto dos outros e agindo segundo as próprias conveniências.
Inadmissível, pois, que o apoio dado por uma liderança assim aconteça porque o
escolhido fez sigilosas promessas ou porque há mágoas pessoais com o outro
candidato ou este não conseguiu cobrir a oferta do oponente.
Fato é que as velhas raposas da política
conhecem muito bem aqueles que são mais preparados para governar e, portanto,
para serem votados. E se não decidem logo pelo apoio é porque estão blefando ou
jogando com a carta dos outros. Ou seja, estão fazendo o jogo das conveniências
pessoais e não estão nem aí para os destinos do estado nem da população.
Somente eles. O resto que se lixe.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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