Rangel Alves da Costa*
Vem causando grande comoção mundial o
sequestro das meninas nigerianas do vilarejo de Cibok. No início desse mês, o
líder do grupo radical islâmico Boko Haram, Abubakar Shekau, anunciou em vídeo
ter sequestrado mais de 200 adolescentes enquanto estas estudavam. Segundo se
noticia, o rapto se dera com dupla finalidade: protestar contra o ensino
ocidentalizado e vender as menores nos países vizinhos. E com finalidades
verdadeiramente aterrorizantes.
As adolescentes raptadas em Cibok são
forçadas a servir como mulheres - digam-se abusos sexuais, estupros, lascívias
- aos próprios integrantes do grupo radical e também vendidas por pequenas
quantias a uma ávida clientela pelas fronteiras. E não é a primeira vez que
isso acontece, vez que outros sequestros com a mesma finalidade já foram
realizados pelo Boko Haram. Notícias dão conta que os próprios pais das
adolescentes são forçados a receber ínfimas quantias por terem perdido suas
adolescentes.
Após o sequestro, em vídeo divulgado na
internet, o líder Abubakar Shekau informou que as meninas seriam vendidas no
mercado. Quer dizer, as que não servissem aos impulsos bestiais dos militantes
do grupo, principalmente para estupros coletivos e outras monstruosidades,
seriam comercializadas como objetos de uso e abuso e por preço barato. E a
verdade é que não faltam compradores nos países fronteiriços à Nigéria.
O Boko Haram, em consonância com a crueldade
e violência de seu líder, não possui qualquer consideração por gente, pessoas,
comunidades, muito menos por adolescentes ainda sem consciência plenamente
formada. É da Shekau a afirmativa que em obediência divina tanto faz matar
seres humanos como animais. Uma declaração de 2012 deixa bem claro seu modo de
agir: “Gosto de matar quem Deus me pedir para matar, da mesma forma que gosto
de matar galinhas e ovelhas”.
A insurgência contra as tradições ocidentais
que se instalaram na Nigéria é tida como um dos fundamentos para ação do Boko Haram,
mas servindo apenas como desculpa para as verdadeiras intencionalidades. A
desestabilização nacional, através do terror, do medo e da violência desmedida,
é o verdadeiro motivo para a existência de grupo armado como este. Aliás,
apenas mais um dos tantos que covarde e brutalmente atuam no continente
africano.
Diante de governos fracos - eles mesmos
nascidos em grupos armados -, países sempre desestabilizados politicamente e
todos os tipos de misérias, são sempre as camadas mais empobrecidas que acabam reféns
dos ensandecidos que atuam misturando religião, violência e sangue. Mas o modus operandi vem sendo extrapolado
desde anos atrás, quando meninas, jovens ainda inocentes, passaram a ser alvo
da sanha assassina de Abubakar Shekau.
Não é, pois, a primeira vez que o Boko Haram
rapta inocentes. Contudo, a aparição do líder em vídeo despertou a atenção
internacional para o fato. Mas desde quando essas crianças vivem desprotegidas,
desde quando esses bárbaros sangram a alma de famílias, destroem os sonhos
adolescentes, estupram, seviciam, tratam com animalidade tantas inocentes? O
que é ser menina, com o sonho de frequentar escola, nas áreas distantes e
empobrecidas do lugarejo nigeriano de Cibok e de outras regiões africanas?
As lideranças mundiais, agora tão preocupadas
em encontrar o restante das crianças, não deveriam agir apenas para resolver
esse problema específico. Todo o continente africano terrivelmente sofre com as
ações dos muitos grupos armados que ceifam vidas humanas como se fossem animais
de caça. Os governos fracos - e também temerosos que tais ações cheguem às suas
portas palacianas - certamente louvariam que as elites militares das potências
dizimassem de vez estas pragas que se alastram.
Enquanto a situação não é resolvida e um
maníaco como Shekau fica ameaçando e brincando com vidas tão jovens e sonhadoras, as meninas de Cibok continuam distantes de suas famílias e entregues
à sorte dos abandonados. Usadas sexualmente, exploradas naquilo que
verdadeiramente ainda não possuem, e talvez sendo trocadas por duas moedas.
Eis, assim, a prova maior que a bestialização humana continua rondando nossos
arredores.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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