SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 11 de maio de 2014

AS MENINAS DE CIBOK (OU A DOR DAS MÃES NIGERIANAS)


Rangel Alves da Costa*


Vem causando grande comoção mundial o sequestro das meninas nigerianas do vilarejo de Cibok. No início desse mês, o líder do grupo radical islâmico Boko Haram, Abubakar Shekau, anunciou em vídeo ter sequestrado mais de 200 adolescentes enquanto estas estudavam. Segundo se noticia, o rapto se dera com dupla finalidade: protestar contra o ensino ocidentalizado e vender as menores nos países vizinhos. E com finalidades verdadeiramente aterrorizantes.
As adolescentes raptadas em Cibok são forçadas a servir como mulheres - digam-se abusos sexuais, estupros, lascívias - aos próprios integrantes do grupo radical e também vendidas por pequenas quantias a uma ávida clientela pelas fronteiras. E não é a primeira vez que isso acontece, vez que outros sequestros com a mesma finalidade já foram realizados pelo Boko Haram. Notícias dão conta que os próprios pais das adolescentes são forçados a receber ínfimas quantias por terem perdido suas adolescentes.
Após o sequestro, em vídeo divulgado na internet, o líder Abubakar Shekau informou que as meninas seriam vendidas no mercado. Quer dizer, as que não servissem aos impulsos bestiais dos militantes do grupo, principalmente para estupros coletivos e outras monstruosidades, seriam comercializadas como objetos de uso e abuso e por preço barato. E a verdade é que não faltam compradores nos países fronteiriços à Nigéria.
O Boko Haram, em consonância com a crueldade e violência de seu líder, não possui qualquer consideração por gente, pessoas, comunidades, muito menos por adolescentes ainda sem consciência plenamente formada. É da Shekau a afirmativa que em obediência divina tanto faz matar seres humanos como animais. Uma declaração de 2012 deixa bem claro seu modo de agir: “Gosto de matar quem Deus me pedir para matar, da mesma forma que gosto de matar galinhas e ovelhas”.
A insurgência contra as tradições ocidentais que se instalaram na Nigéria é tida como um dos fundamentos para ação do Boko Haram, mas servindo apenas como desculpa para as verdadeiras intencionalidades. A desestabilização nacional, através do terror, do medo e da violência desmedida, é o verdadeiro motivo para a existência de grupo armado como este. Aliás, apenas mais um dos tantos que covarde e brutalmente atuam no continente africano.
Diante de governos fracos - eles mesmos nascidos em grupos armados -, países sempre desestabilizados politicamente e todos os tipos de misérias, são sempre as camadas mais empobrecidas que acabam reféns dos ensandecidos que atuam misturando religião, violência e sangue. Mas o modus operandi vem sendo extrapolado desde anos atrás, quando meninas, jovens ainda inocentes, passaram a ser alvo da sanha assassina de Abubakar Shekau.
Não é, pois, a primeira vez que o Boko Haram rapta inocentes. Contudo, a aparição do líder em vídeo despertou a atenção internacional para o fato. Mas desde quando essas crianças vivem desprotegidas, desde quando esses bárbaros sangram a alma de famílias, destroem os sonhos adolescentes, estupram, seviciam, tratam com animalidade tantas inocentes? O que é ser menina, com o sonho de frequentar escola, nas áreas distantes e empobrecidas do lugarejo nigeriano de Cibok e de outras regiões africanas?
As lideranças mundiais, agora tão preocupadas em encontrar o restante das crianças, não deveriam agir apenas para resolver esse problema específico. Todo o continente africano terrivelmente sofre com as ações dos muitos grupos armados que ceifam vidas humanas como se fossem animais de caça. Os governos fracos - e também temerosos que tais ações cheguem às suas portas palacianas - certamente louvariam que as elites militares das potências dizimassem de vez estas pragas que se alastram.
Enquanto a situação não é resolvida e um maníaco como Shekau fica ameaçando e brincando com vidas tão jovens e sonhadoras, as meninas de Cibok continuam distantes de suas famílias e entregues à sorte dos abandonados. Usadas sexualmente, exploradas naquilo que verdadeiramente ainda não possuem, e talvez sendo trocadas por duas moedas. Eis, assim, a prova maior que a bestialização humana continua rondando nossos arredores.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: