SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 28 de maio de 2014

PALAVRAS SILENCIOSAS – 623


Rangel Alves da Costa*


“Minha face não nega o entristecimento...”.
“Espero temporal e tempestade de janela aberta...”.
“Relembro a flor que se foi...”.
“E recordo que só ficou o espinho...”.
“Jamais negarei meu olhar cansado...”.
“Nem mar ou oceano no poente dos olhos...”.
“Braços sem abraços e face sem beijos...”.
“Meu espelho me olha chorando...”.
“Meu trem nunca chega à estação...”.
“E a carta aberta caiu a meus pés...”.
“Asas de Ícaro que já derreteram...”.
“Sonhos de uma liberdade ausente...”.
“E avisto um penhasco como minha montanha...”.
“Não sou fronteira pra ficar dividido...”.
“Dê-me um copo de sangue ou de vinho...”.
“Meu suor vai escorrendo veneno...”.
“Mas não bebo do meu próprio dissabor...”.
“Hei de partir que a guerra vai começar...”.
“Guerreiro tombando aos pés de mim mesmo...”.
“Ouço meu grito e meu sofrimento...”.
“Ainda assim canto a canção...”.
“O canto do adeus e partida dos que não retornam...”.
“O vento soprando açoita a vela...”.
“A luz vai chamando a escuridão...”.
“O farol naufragou no seu mar...”.
“Apenas um cais tomado de solidão...”.
“Eis que ouço os roncos dos trovões...”.
“Chispas faiscantes passeiam no céu...”.
“Nada mais esperar senão a tormenta...”.
“Vento esvoaçando os varais onde estou...”.
“Não sei se já fui ou se ainda estou...”.
“Talvez seja o grão que some ao longe...”.
“Mas ainda me resta um último sacrifício...”.
“Escrever o epitáfio que jamais será lido...”.
“Pois as aves agourentas têm pressa de decifrar...”.
“O segredo da vida na morte...”.
“Ou a sorte de jamais perecer...”.
“Não como resto consumido na terra...”.
“Eis que a cruz sempre irá existir...”.
“Ainda que o tempo apague a memória...”.
“Porque escrito no livro da vida...”.
“Que será imortal aquele que partiu...”.
“Mas os seus feitos ficaram guardados...”.
“Nas portas e janelas dos dias...”.
“Como resquícios de tanto querer...”.
“Mas nada feito contra a própria vontade...”.
“E tudo feito contra sua vontade...”.
“Pois na estrada ficaram os passos...”.
“Na direção do jamais alcançado...”.
“Que era apenas estar a seu lado...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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