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quinta-feira, 15 de maio de 2014

POVO, SEGUNDO O POLÍTICO


Rangel Alves da Costa*


O conceito de povo, por mais amplo e abrangente que seja, não pode ser minimizado segundo objetivos escusos. Eis que povo é um conjunto de indivíduos, os habitantes de uma região, a população em geral, o conjunto de cidadãos de um Estado. Também significa gente, indivíduos, pessoas, sujeitos. E todos os conceitos e significados jamais trazem características distorcidas no seu bojo. Mas a política, na sua ardileza de tudo transformar em seu proveito, acaba proporcionando-lhe um sentido bem diferente. E desonroso.
Por mais que se desdobre para negar, para proporcionar uma resposta menos explícita e vexatória, não há como não dizer que a ideia de eleitor é aquela que logo surge ao político quando se fala de povo. Não existe gente, indivíduo, pessoa, sujeito, nada que signifique o reconhecimento do ser, mas apenas e tão somente o eleitor, o votante, aquele que lhe será útil para alcançar a vitória nas urnas. Noutros tempos foi visto como cédula eleitoral, mas hoje apenas como uma cola com o número do candidato.
Além de ter sempre o povo como mero eleitor, o político tudo faz para descaracterizá-lo ainda mais. Ora, ser apenas eleitor não significa quase nada se não for transformado também em massa de manobra. Na concepção do político, será sempre preciso ter o eleitor nas suas rédeas, devendo-lhe obediência, subjugado a seus favores, mantido à sua disposição como um mero objeto votante. Firmar um contexto de dependência, ajudando-o a se manter de pé, porém sem forças para reagir, é uma forma eficiente de controle do homem e do eleitor.
Lamentável que assim aconteça, mas é a pura verdade. Nem mesmo o político filósofo, sociólogo, psicólogo ou seja lá o que for, jamais se preocupará em ver o povo como conceito outro que não o de eleitor. E não adianta pretender mostrar que povo é muito mais que um mero votante, um sufragista. Não adianta porque o valor de cada um está na soma que pode proporcionar aos planos eleitoreiros.
Por incrível que pareça, mas o verso sobrevive de seu inverso, por ele é escolhido e eleito, é votado e aclamado, pois o antônimo de eleitor é exatamente político. E assim porque enquanto político é geralmente sinônimo de esperteza, astúcia, manha, desonestidade, mentira, o povo, por mais que seja culpado pela existência daquele, não padece de tantas imperfeições. Excetuando-se as escolhas errôneas que sempre faz e ousa, covardemente, repetir, ainda pode ser visto como honesto e trabalhador.
Para se dimensionar tal questão, basta ver o que ocorre nos acordos firmados entre candidatos e aqueles que se dizem lideranças políticas e donos de verdadeiros currais eleitorais. A liderança vende seu apoio garantindo o voto de uma boiada, daquelas tantas cabeças de eleitores que assevera dispor no seu curral. Jamais afirma que pode contar com a ajuda de tantos ou quantos amigos, mas que pode despejar uma quantidade de votos no candidato.
As tais lideranças políticas, na contagem de eleitores para as negociações, apenas vão somando os votos casa a casa. Naquela tenho tantos votos, naquela outra posso contar com mais tantos, e ainda na outra não sei se tenho o apoio de todos, mas da maioria. Quer dizer, não há consideração alguma com as pessoas em si, mas tão somente como prováveis votantes, como eleitores que são somados e vendidos pela pretensa liderança. E recebem quantia pela venda de quantidade, e neste aspecto nenhuma diferença faz se vendeu cem cabeças de gado ou os votos de cem pessoas. Mais uma vez a pessoa não passa de mero objeto de barganha.
A transformação da condição da pessoa humana em simples objeto, número ou quantidade, arraigou-se culturalmente segundo as necessidades de uso que os sujeitos possam ter. Na política clientelista, baseada na troca de favores e onde os eleitores são tratados como dependentes para quase todas as situações da vida, o político simplesmente procura suprir as necessidades segundo o número de votos que precisa obter. É, pois, o voto em si, e não a pessoa empobrecida, que interessa ao político. E quanto mais pobres e dependentes mais será fácil garantir votos em troca de favores degradantes.
Na política coronelista ocorria também assim, e de forma mais vergonhosamente explícita. Perante os coronéis, senhores de poder e mando, não havia a mínima diferença entre pessoa e bicho. O termo curral eleitoral vem daí, vez que o poderoso senhor mantinha seu eleitorado em cativeiro alimentado por escravismos e subempregos, na condição de miserável e sempre necessitado, de modo que dele dependesse para tudo na vida. Mantidas da mesma forma que o senhor sustentava seus bichos, como num curral dependente do alimento para sobreviver, as pessoas se transformavam apenas em números.
E não ocorre diferente nas esferas governamentais onde haja programas assistenciais objetivando submeter a sociedade empobrecida ao assistencialismo ou clientelismo estatal. Neste aspecto, quase nada mudou. Existe ainda um coronelismo disfarçado e um clientelismo explícito. Quanto ao assistencialismo, basta ver com quantas bolsas-família se ganha uma eleição.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

Um comentário:

L.P disse...

Muito bom texto. Eu li um texto seu no Jornal do Dia e achei bem interessante. Também faço poemas e sou Representante da Frente Integralista em Sergipe.

para saber mais sobre o integralismo brasileiro sem as notorias distorçoes da midia pró-marxismo acesse:

http://ask.fm/integralismo32